BATALHÃO DE CAÇADORES 3843

quarta-feira, 2 de outubro de 2024

OS PORTUGUESES PARECEM TER VERGONHA DE SE ORGULHAREM DO QUE CONSEGUIRAM

"Os portugueses parecem ter vergonha de se orgulharem do que conseguiram."

REVELAÇÕES FEITAS POR UM HISTORIADOR ESTRANGEIRO SOBRE A GUERRA DO ULTRAMAR: 1961 - 1974



Jonathan Llewellyn 

"Espero que perdoem a um estrangeiro intrometer-se neste assunto, mas é preciso que alguém diga certas verdades.

A insurgência nos territórios ultramarinos portugueses não tinha nada a ver com movimentos nacionalistas. Primeiro, porque não havia (como ainda não há) uma nação angolana, uma nação moçambicana ou uma nação guineense, mas sim diversos povos dentro do mesmo território. E depois, porque os movimentos de guerrilha foram criados e financiados por outros países.

ANGOLA – A UPA, e depois a FNLA, de Holden Roberto foram criadas pelos americanos e financiadas (directamente) pela bem conhecida Fundação Ford e (indirectamente) pela CIA.

O MPLA era um movimento de inspiração soviética, sem implantação tribal, e financiado pela URSS. Agostinho Neto, que começou a ser trabalhado pelos americanos. só depois se virando para a URSS, tinha tais problemas de alcoolismo que já não era de confiança e acabou por morrer num pós-operatório. Foi substituído pelo José Eduardo dos Santos, treinado, financiado e educado pelos soviéticos.

A UNITA começou por ser financiada pela China, mas, como estava mais interessada em lutar contra o MPLA e a FNLA, acabou por ser tolerada e financiada pela África do Sul. Jonas Savimbi era um pragmático que chegou até a um acordo com os portugueses.

MOÇAMBIQUE - A Frelimo foi criada por conta da CIA. O controleiro do Eduardo Mondlane era a própria mulher, Janet, uma americana branca que casou com ele por determinação superior. Mondlane foi assassinado por não dar garantias de fiabilidade, e substituído pelo Samora Machel, que concordou em seguir uma linha marxista semelhante à da vizinha Tanzânia. Quando Portugal abandonou Moçambique, a Frelimo estava em ta estado que só conseguiu aguentar-se com conselheiros do bloco de leste e tropas tanzanianas.

GUINÉ – O PAIGC formou-se à volta do Amílcar Cabral, um engenheiro agrónomo vagamente comunista que teve logo o apoio do bloco soviético. Era um movimento tão artificial que dependia de quadros maioritariamente cabo-verdianos para se aguentar (e em Cabo Verde não houve guerrilha). Expandiu-se sobretudo devido ao apoio da vizinha Guiné-Konakry e do seu ditador Sékou Touré, cujo sonho era eventualmente absorver a Guiné portuguesa.

Em resumo, territórios portugueses foram atacados por forças de guerrilha treinadas, financiadas e armadas por países estrangeiros. Segundo o Direito Internacional, Portugal estava a conduzir uma guerra legítima. E ter combatido em três frentes simultâneas durante 13 anos, estando próximo da vitória em Angola e Moçambique e com a situação controlada na Guiné, é um feito que, militarmente falando, é único na História contemporânea.

Então porque é que os portugueses parecem ter vergonha de se orgulharem do que conseguiram?"

Publicado a 01 de Junho 2013 por Jonathan Llewellyn


terça-feira, 14 de novembro de 2023

DA GUERRA NUNCA SE VOLTA

 ASSOCIAÇÃO 25 DE ABRIL – 17/11/2023

DA GUERRA NUNCA SE VOLTA

(Os Caminhos Cruzados da Guerra Colonial)

INTERVENÇÃO

Boa tarde, amigos, companheiros, camaradas!

Normalmente faço a intervenção no fim das sessões. Neste caso julgo ser necessário contextualizar à partida este livro de memórias, minhas e dos outros intervenientes, certamente similares às de milhares de camaradas ex-militares anónimos a quem pretendemos dar voz!

Trabalhámos mais de dez anos neste projeto! Não foi em exclusividade, claro. Desde a publicação de “Guerra Colonial, a Memória Maior que o Pensamento”, em 2009, publicámos outros livros (este é o 12º!) sempre com enorme prazer. Como diz o ditado popular, “quem corre por gosto não cansa!”. Ou como dizia Gonçalo Anes Bandarra, o sapateiro de Trancoso, arauto das profecias:

Em dois sítios me achareis

Por desgraça ou por ventura

Os ossos na sepultura

A alma nestes papéis

Tínhamos esta obrigação histórica! Contar as memórias, próprias e de outrem, do conflito que atormentou durante demasiados anos a vida de Portugal e dos portugueses. A nós roubou-nos quase quatro dos melhores anos da juventude!


Naturalmente já outros o fizeram nestes 50 anos após a Revolução de Abril e o fim da Guerra. E foi Guerra Colonial porque se tratava de Colónias e não de “Províncias Ultramarinas”, como há “última hora” Oliveira Salazar e Franco Nogueira inventaram para disfarçar o colonialismo de 500 anos!

Para que a história não seja um mero repositório de factos, ou a narrativa cronológica e inútil dos acontecimentos – como escreveu Ladislau Batalha no “Ávante” (jornal socialista publicado no Barreiro no início do século XX), é necessário perceber a essência e o significado profundo (social, económico e político) dos acontecimentos históricos, para se compreender melhor o que se passou ontem, o que está a acontecer nos dias de hoje e poder perscrutar os caminhos do futuro.

Foi o que procurámos fazer neste livro “Da Guerra Nunca se Volta”, um título filosófico pleno de significado, seguindo cinco direcções principais:

1ª - Caracterizar e clarificar o “Colonialismo Português, em África”, tratado em Apêndice, e o seu longo cortejo de cinco séculos de exploração, escravatura, revoltas, opressão e morticínios. Feito de uma forma sintética mas rigorosa e precisa, não se tratando de uma obra académica, outrossim de um contributo memorialista sério.

* Podemos constatar logo à chegada ao distrito de Tete, o estadio das populações acantonadas em “aldeamentos estratégicos”, para onde foram empurradas nos finais da década de 60 – seguindo a orientação dos americanos entretanto derrotados no Vietname! Os recalcitrantes tinham sido liminarmente eliminados segundo o relatório do padre português Luís Costa. A vida no aldeamento de Chipera era miserável, o único negócio próspero era a prostituição! Ainda retemos a imagem da fila de miúdos andrajosos com as latinhas na mão para receberem a sopa aguada do rancho e um pedaço de pão. Da mesma sopa comiam os soldados, oriundos dos Açores, que só tinham colheres distribuídas. De facto não precisavam de garfo e faca, carne era coisa só para os dias de festa! Estamos a falar do ano de 1972, não foram precisos 13 anos para perceber a dimensão do drama e da ignomínia do execrável colonialismo militarista!

2ª - Relevar a luta dos povos de Angola, da Guiné, e de Moçambique pela sua libertação nacional, com o sacrifício de centenas de milhares de vítimas da orientação imperialista dos governos do fascismo em Portugal. Infelizmente essa luta ancestral contra os impérios não terminou noutros pontos do globo!

* Quando chegámos à Beira em Outubro desse ano de 1972, o jornal “Notícias da Beira” relatava com fotos os assaltos de “bandoleiros” aos machibombos, na estrada Beira-Vila Pery. Na reflexão com o António Marquês, um fraterno camarada já desaparecido que hoje recordamos, desconfiámos:

- Bandidos? Ná!...Isto deve ser a Frelimo!

- A Frelimo no distrito da Beira, na estrada internacional? Olá!...

Era de facto a Frente de Libertação de Moçambique que, derrotando o megalómano Kaúlza de Arriaga (cantara vitória na RTP em Agosto de 1970, após a famigerada operação Nó Górdio), retirara os guerrilheiros de Cabo Delgado e trouxera-os para Tete, ameaçando destruir a Barragem de Cabora Bassa, mas passando o Zambeze para o território de Manica/Sofala onde quase não havia tropas. Estrategicamente: Samora 10, Kaúlza 0!

3ª - Mostrar os horrores (também as solidariedades!...) de uma guerra fratricida que o regime de ditadura teimou em manter com o sacrifício de dezenas de milhares de vidas (mortos, feridos, estropiados, traumatizados). Mais de um milhão de jovens portugueses esteve na guerra colonial!

* A capa do livro com fotos originais cedidas pelo camarada de guerra Victor Pessa e tratadas pelo meu “casulo” Álvaro Teixeira, encerra um drama terrível, que perpassa por todo o livro, do malogrado capitão miliciano Celestino da Cunha que em Agosto de 1972, pouco antes de chegarmos, foi atingido numa perna durante uma emboscada e morreu durante a evacuação. Disso falará melhor o camarada Manuel Ferreira que viveu esse acontecimento trágico.

Um caso impressivo entre os milhares de vítimas que custaram os treze anos de criminosa política do regime de Oliveira Salazar e de Marcelo Caetano. A História ainda não julgou devidamente os ditadores que alguns procuram recuperar. Não deixemos! Com o nosso testemunho, por isso aqui estamos hoje! Obrigado por terem vindo!

4ª - Honrar a opção sacrificial daqueles que nas FA e na Guerra Colonial em particular, resistiram, contrariando e confrontando o militarismo, a obediência cega, a alienação: pela denúncia, pela postura passiva, pela insubordinação, por acções concretas contra o aparelho militar. Por isso muitos pagaram um custo elevado (detenções, castigos disciplinares, prisão, torturas, penas militares, despromoções).

* É longa a história do militarismo nas Forças Armadas, desde o golpe militar reaccionário que pôs fim à República, em 28 de Maio de 1926. Tão longa como a história da resistência no seu próprio interior.

- Nos anos 30 de século XX, as tentativas de reverter a situação através de pronunciamentos militares (o chamado reviralho!), foram ferozmente reprimidas com centenas de mortos, a deportação e a eliminação de muitos graduados – disso nos falará um dia o professor Luís Farinha.

- Na repressão dos marinheiros em 1936 (a célebre Revolta da Marinha, dirigida pela ORA – Organização Revolucionária da Armada, de inspiração comunista). Oliveira Salazar mandou construir o Campo de Concentração do Tarrafal em Cabo Verde ( o campo da morte lenta), para onde mandou mais de uma centena de marinheiros sem julgamento.

- De braço dado com a polícia política o Exército incorporou no Batalhão Disciplinar de Penamacor os presos políticos saídos das prisões como aconteceu, entre outros, a Álvaro Cunhal e a Aboim Inglês.

- Mais próximo de nós, em 1969, alterando a lei 2137/68, o governo de Caetano/Saraiva, mandou incorporar compulsivamente 49 dirigentes e activistas da Associação Académica de Coimbra, enviados depois para a guerra.

5ª - Relevar e fazer justiça ao “esquecido” papel dos militares milicianos incorporados à força (muitos optaram por serem refractários ou pela deserção!), que ao longo dos últimos anos de guerra contribuíram pela acção (ou pela inacção!), para a tomada de consciência dos militares profissionais patriotas que se levantaram no glorioso 25 de Abril de 1974, derrubando o regime fascista.

* Nos anos 70 foram milhares os jovens arrancados às escolas, penalizados por “mau comportamento” ou por exclusão numa única cadeira, como aconteceu nos Institutos Industriais.

Erro político fatal do fascismo que levou os protestos, a insubmissão e a revolta para dentro das FA (que de resto existiram desde os primórdios da mobilização para a guerra!), com agitação, documentos de denúncia, pichagens, levantamentos de rancho, até recusas de embarque. Foram às centenas os castigos, detenções, prisões disciplinares, despromoções, entregas à PIDE, torturas, julgamentos, penas de prisão em Caxias e em Peniche.

Essa história está por fazer no essencial, temos pena de não ter tempo para realizar um levantamento exaustivo. Referimos a título exemplificativo os casos conhecidos de, Júlio Pinto, Fonseca Ferreira, Acácio Justo, Barros Moura, Octávio Rodrigues e do autor.

*Os intervenientes convidados, a quem agradeço a participação fraterna, irão certamente abordar outros aspectos particulares ou mais gerais do livro em apreço!

Aproveito ao terminar para:

• Agradecer as múltiplas contribuições de muitos amigos na recolha de testemunhos, no aconselhamento literário, no tratamento de texto, nas correções e revisões, na construção do Prefácio e do Prólogo, no arranjo da Capa e da Contra-Capa, no tratamento das fotografias em projecção, na edição e na divulgação/venda do livro;

• Assinalar a participação solidária do Movimento MilAbril (Movimento de ex-militares milicianos por Abril) que nasceu por esta ideia de ajudar a construir o livro e continua a trabalhar para fazer justiça ao papel dos milicianos no processo que levou ao derrube do regime e à construção de revolução democrática.

• Agradecer à Associação 25 de Abril que cordialmente e de forma prestável nos recebe pela segunda vez;

• Estender o agradecimento aos animadores da música e da poesia, “velhos” companheiros de estrada que estão nestas andanças comigo há muitos anos! Alargá-lo aos amigos que prepararam a sessão e organizaram o convívio.

• Um obrigado com amor à companheira que participou e viveu de forma dolorosa os relatos que preenchem uma parte do livro, continuando a apoiar nos quase 30 anos de escrita que nos rouba muitas vezes o convívio familiar e social. Alargá-lo aos familiares que nos tem apoiado com carinho.

• Alargar essa saudação a todas as companheiras que viveram os dramas da guerra colonial.

• Um sentido agradecimento aos companheiros e camaradas que pela lei da vida nos foram deixando, e que por contribuições valorosas para esta obra e para o seu autor, da lei do esquecimento se libertaram. Por isso o oferecimento do livro autografado aos familiares de José Saraiva, Dourada Mendes (protagonistas do livro) e de Mário de Pádua (prefaciador).

Em sua memória e das boas recordações que nos deixaram de camaradagem, solidariedade, coragem e fraternidade, propomos: (Aplauso de pé/ Ou um minuto de silêncio).

quarta-feira, 4 de outubro de 2023

AINDA EXISTEM MAIS DE 400 MIL EX-COMBATENTES VIVOS?

O conceito de antigo combatente, do ponto de vista legal, não se restringe aos ex-militares que participaram na chamada 'guerra do ultramar', incluindo também aqueles que estiveram nos territórios de Goa, Damão, Diu, Dadra e Nagar-Aveli (aquando da anexação pela União Indiana); Timor -Leste (entre o dia 25 de abril de 1974 e a saída das Forças Armadas portuguesas), bem como os militares que tenham participado em missões humanitárias.

Porém, a guerra colonial é genericamente considerada como a que decorreu em Angola, Moçambique e Guiné-Bissau, entre 1961 e 1975, territórios para onde foi mobilizada a esmagadora maioria dos designados ex-combatentes.

O número de militares – de carreira ou recrutados à sociedade civil – chamados a este conflito é de forma consensual colocado na faixa dos oitocentos mil. Já na quantificação dos que - mais de quatro décadas depois - ainda estão vivos, as estimativas são bastante díspares.


Os veículos dessas informações são as várias associações de antigos combatentes (através da contagem dos associados e de informação recolhida junto da Segurança Social), o PAN e o Governo (estes dois últimos nem sempre revelam a fonte de informação).

Na ordem de grandeza desse número há dois paradigmas: até Julho de 2020 (tempo até ao qual se apontava para cerca de 485 mil antigos combatentes vivos, a cifra que ainda hoje é referência nas redes sociais) e o pós-Julho de 2020, em especial desde Abril de 2021 (quando essa avaliação prospectiva passou a variar entre os quase 200 mil e os "mais de 300 mil").

O que separa estes dois tempos de estimativas tão diferentes?

A preparação e aprovação de uma nova Lei (o Estatuto do Antigo Combatente) e a sua execução prática, ou seja, a monitorização do número dos seus beneficiários. Por isto mesmo, têm origem no próprio Governo previsões tão diferentes para o número de ex-combatentes vivos (incluindo militares presentes nas antigas províncias portuguesas na Índia, em Timor e nas missões humanitárias).

No mesmo ano (2019) mas em duas legislaturas diferentes (a XIII, que terminou em Setembro de 2019, e a XIV, que ainda decorre) foi discutido e aprovado o já referido Estatuto do Antigo Combatente (EAC).

Durante o primeiro Executivo liderado por António Costa, o Ministério da Defesa tomou a iniciativa política da criação do EAC. Quando anunciou, a 11 de Abril de 2019, que tinha sido aprovada em Conselho de Ministros a respectiva Proposta de Lei, referiu no comunicado: "O universo de Antigos Combatentes – definido pela Lei 9/2002 (alterado em 2004 e 2009) – é actualmente de cerca de 485 mil cidadãos, com uma média de idades de 72 anos."

Por falta de sustentabilidade financeira para as medidas previstas nesse Estatuto - após as alterações aprovadas em sede de comissão parlamentar pelos partidos da oposição, o Governo acabou por deixar cair a proposta em Julho, no final dessa legislatura.

No início da seguinte (a actual), vários partidos apresentaram Projectos de Lei que retomavam a formalização de um EAC. Num deles, o do PAN, de Novembro de 2019, pode ler-se: “A aprovação deste Estatuto é uma medida de elementar justiça para com os 485 mil antigos combatentes que (…) vivem em condições sociais muito preocupantes”.

Também as associações dos ex-combatentes tinham como padrão, nesse período, os 485 mil elementos vivos. Manuel Moreira Rodrigues, presidente da Associação dos Antigos Combatentes do Ultramar Português, explicou ao Polígrafo a razão para tal: "Este foi o número indicado pela Caixa Geral de Aposentações em 2019, quando quisemos saber junto da Segurança Social quantos éramos. Desde aí, não houve mais nenhuma actualização e não tivemos outra referência em que nos possamos basear."

O EAC acabou por ser mesmo aprovado em Julho de 2020. As consequências financeiras das medidas por si fixadas obrigaram o Executivo, primeiro, a realizar previsões do número de beneficiários a abranger e, depois, já este ano, ao balanço dos que já fizeram prova dessa condição.

É nesta dupla operação, sempre realizada pelo Governo, que os números são completamente distintos, muito abaixo da cifra inicial, e impossíveis de justificar com a pandemia (em Portugal morreram cerca 17.200 pessoas de Covid-19 desde Março de 2020).

Logo no mês da aprovação do EAC, a Secretária de Estado dos Recursos Humanos e Antigos Combatentes, Catarina Sarmento e Castro, referia que "antigos combatentes são mais de 300 mil" e que o número total de 400 mil "era fiável" se contabilizadas também as viúvas.


Em Abril deste ano, após o Tribunal de Contas autorizar o contrato para a produção dos cartões de antigo combatente – instrumento de identificação essencial, recém-criado pelo Estatuto -, a governante reafirmou estes números (“trezentas e muitas mil pessoas”) quando discursava na inauguração do memorial ao Combatente de Caldas das Taipas – Guimarães.

Questionado sobre os dados atuais, o gabinete de comunicação do Ministério da Defesa Nacional (MDN), esclareceu que "até ao passado dia 23 de Julho, e em pouco mais de três meses, foram enviados mais de 200 mil cartões de Antigo Combatente e de Viúva ou Viúvo de Antigo Combatente para as moradas dos destinatários. Deste total, cerca de 190 mil dizem respeito a antigos combatentes e mais de 14 mil a viúvas ou viúvos de antigos combatentes". Um número muito aquém dos 485 mil, ainda que o MDN preveja bastantes mais pedidos e afirme que "calcula um universo total de quase 400 mil antigos combatentes, incluindo viúvas e viúvos".

O número que, para já, pode ser garantido é o de cerca de 200 mil, contingente que o Governo acredita poder ascender aos "quase 400 mil" (mas com viúvas incluídas). Sublinhe-se que este valor diz respeito a todos os abrangidos pelo Estatuto do Antigo Combatente (não apenas quem esteve nas trincheiras de Angola, Moçambique e Guiné-Bissau).

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2023

A BEM DA HISTÓRIA DA C.CAÇ.3357

A BEM DA HISTÓRIA DA C.CAÇ.3357

Fomos embarcados no paquete Niassa em 21 de Abril de 1971. 

Nesse dia para além do BAT.3843 tivemos por companheiros de viagem o BAT.3842, militares da F.A.P. e um pelotão de apoio directo. O local de destino da C.CAÇ. 3357 foi Moçambique à Chiringa no Distrito de Tete. Por vezes fico surpreendido com publicações da guerra onde se afirma que Oficiais e Sargentos do quadro não faziam parte da guerra. Como sabemos o nosso Comandante de Companhia Capitão Duarte Salvado da Cunha Raimundo era oficial do Q.E.O. na mesma C.CAÇ.3357 ainda tínhamos mais três 1ºs. Sagentos que nos acompanharam até ao destino acima referido. Um deles passado pouco tempo rumou outras paragens. Estes homens já tinham várias comissões, logo tinham história de guerra. 



Recordo operações a nível de Companhia, estas em rega geral comandadas pelo nosso Capitão, o mesmo fez parte de várias colunas. Por sinal ao inteirara-se de um engenho explosivo instalado pela guerrilha na picada da Chiringa para a Chipera quando debruçado sobre o mesmo sofreu uma emboscada, felizmente sem consequências de maior para Ele. Os 1ºs. Sargentos que nos coube em sorte ficaram com serviços administrativos, no aquartelamento. Se houvesse necessidade de deslocações a Tete, por vezes iriam de coluna raras vezes tal ocorreu. Sabemos que os aquartelamentos eram atacados com material de guerra, de armas pesadas, aqui por sinal também fomos atacados. Não fica bem, publicarem factos com pouca precisão histórica, pois os graduados do quadro estiverem sujeitos às vicissitudes da guerra tal como a maioria dos combatentes. 

Por sinal se quiserem ser cuidadosos, se forem aos registos de guerra, muitos faleceram ou ficaram gravemente feridos. Claro que a maior fatia da guerra imposta, na nossa querida C.CAÇ.3357 foi obra de Oficiais Milicianos, Furriéis Milicianos, Praças com as várias especialidades. Coube aos atiradores, aos condutores, aos enfermeiros e pessoal de transmissões de infantaria e mecânicos autos o esforço enorme de enfrentarem a guerra, com parca alimentação e muito material de apoio muito danificado. tanto nas deslocações pelas picadas, como pelas progressões do terreno em operações militares. Não sou advogado de defesa de ninguém, mas diga-se em abono da verdade, que os homens do quadro fizeram parte do esforço de guerra. Fica mal fazerem publicações de sentido contrário. Alguns Furriéis Milicianos no meu caso como Furriel de transmissões, tive uma actividade de guerra menor, porque a dita especialidade era rodeada de outros afazeres. 

Envio um enorme Abraço a todos os resistentes da nossa querida C.CAÇ. 3357 que nas diferenças de cada um, sujeitos ao S.M.O. conseguimos granjear amizades fortíssimas para o resto das nossas vidas. Um bem haja a todos saúde 

Tudo em nome de Portugal.

Texto de António Fidalgo. CCAÇ 3357

terça-feira, 24 de janeiro de 2023

BREVE HISTÓRIA SOBRE O NAVIO NIASSA

NIASSA - O ÚLTIMO PAQUETE DO DESPACHO 100

NIASSA (1955-1979)

Navio de passageiros a motor, construído de aço, em 1954-1955. Nº oficial: H 435; Indicativo de chamada: CSAW. Arqueação bruta: 10.742 toneladas; Arqueação líquida: 6.257 toneladas; Porte bruto: 9.706 toneladas. Deslocamento leve / máximo: 6.624 / 16.330 toneladas. Capacidade de carga: 5 porões para 13.249 m3 de carga geral, incluindo 597 m3 de carga frigorífica. Comprimento ff.: 151,27 m; Comprimento pp.: 139,60 m; Boca: 19,44 m; Pontal: 11,95 m; Calado: 8,37 m. Máquina: 1 motor diesel Doxford-Ansaldo, com 6.800 bhp a 115 rpm (Máx. 7 150 bhp a 117 rpm), 1 hélice. Velocidade: 16 nós. Passageiros: 322 (22 - 1ª., 300 em turística) Tripulantes: 132. Custo: 135.000.000$00.

O NIASSA foi construído em Antuérpia, Bélgica, pela Société Anonyme Cockerill-Ougrée (construção nº 768), para a Companhia Nacional de Navegação. O contrato de encomenda foi assinado em 08-1952 procedendo-se ao assentamento da quilha a 24-05-1954. O navio foi lançado à água a 5-03-1955, sendo madrinha Dª. Maria Natália Ribeiro da Costa Rodrigues Thomaz, filha do Ministro da Marinha. As provas de mar tiveram início em 18-07-1955 e a entrega do navio deu-se em Antuérpia a 4-08, largando o NIASSA a 6-08 para Lisboa onde entrou pela primeira vez a 10-08-1955, sob o comando do capitão Filipe Freire.

A chegada ao Tejo coincidiu com o 10º aniversário da publicação do Despacho 100 assinalando a sua conclusão. Registado em Lisboa a 31-08-1955, o NIASSA largou a 7-09-1955 para a viagem inaugural à África Oriental. Na segunda viagem, saiu de Lisboa em 11-1955 fretado ao Ministério do Exército em serviço de transporte para o Extremo Oriente e África.


O NIASSA foi fretado ao Ministério do Exército para transporte de tropas e material de guerra a partir de: 14-03-1959 (portaria nº 17.054 de 6-03-1959) para 2 viagens à Índia; 23-04-1960 (portaria nº 17.684 de 19-04-1960); 15-03-1961 (portaria nº 18.298 de 4-03-1961); 26-05-1961 (portaria nº 18.495 de 30-05-1961); 28-06-1961 (portaria nº 18.555 de 27-06-1961); 10-01-1962 (portaria nº 18.949 de 4-01-1962); 15-07-1962 (portaria nº 19.267 de 9-07-1962)...

Em 22-01-1973 o NIASSA chegou a Glasgow para ser reclassificado, voltando a Lisboa a 9-03. Continuou ao serviço da CNN, fazendo a carreira de Angola e fretamentos militares. Depois da independência de Angola, passou a fazer a carreira de Cabo Verde. O NIASSA concluiu a última viagem a Cabo Verde a 9-01-1977 e foi imobilizado em Lisboa até 7-01-1978 quando voltou ao serviço para fazer uma série de 8 viagens regulares entre Lisboa e o Funchal fretado à CTM.


Na sua última viagem, a 25-02, socorreu e rebocou para Lisboa o cargueiro CEDROS que estava em perigo ao largo da costa portuguesa sob temporal, após o que rumou ao Funchal. Em 4-03-1978 terminou em Lisboa a última viagem e foi posto à venda. Adquirido a 6-05-1979 pelo sucateiro espanhol Hierros Ardes, saiu de Lisboa em 8-05-1979 a reboque do rebocador espanhol AZNAR JOSÉ LUIS para Bilbao, onde entrou a 13-05, tendo-se iniciado os trabalhos de demolição a 23-05-1979.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2023

AS FORÇAS ARMADAS TÊM 220 GENERAIS

AS FORÇAS ARMADAS TÊM 220 GENERAIS QUE "CUSTAM 13,9 MILHÕES DE EUROS" POR ANO?

"OS DADOS DO MINISTÉRIO DA DEFESA REVELAM QUE, NO FINAL DE 2016, ESTAVAM EM EFETIVIDADE DE FUNÇÕES 106 GENERAIS, ASSIM DISTRIBUÍDOS: CINCO ALMIRANTE/GENERAIS (QUATRO ESTRELAS), 20 VICE-ALMIRANTE/TENENTE-GENERAL (TRÊS ESTRELAS), 47 CONTRA-ALMIRANTE/MAJOR-GENERAL (DUAS ESTRELAS) E 34 COMODORO/BRIGADEIRO-GENERAL (UMA ESTRELA)", ACRESCENTA-SE NO TEXTO DA PUBLICAÇÃO EM CAUSA.

"Aos 106 generais em efetividade de funções, acrescem, segundo o Ministério da Defesa, 114 generais na reserva, dos quais 40 estão na efetividade de serviço. Ou seja, exercem funções", salienta-se. "Tendo em conta os salários mensais dos generais, o suplemento da condição militar (20% do ordenado base) e as despesas de representação mensais, é possível calcular os encargos com as remunerações dos 220 generais: por ano, a despesa total ascende a 13,9 milhões de euros, dos quais 6,7 milhões de euros dizem respeito aos 114 generais na situação de reserva".

DERAM CABO DAS FORÇAS ARMADAS

VOSSAS EXCELÊNCIAS DERAM CABO DAS FORÇAS ARMADAS


Não podia estar mais de acordo com ele. Fomos úteis durante uma decada e depois desprezados por uma classe política sem educação nem respeito por quem deveriam ter.

Estou triste há muito tempo.

AOFA - Associação de Oficiais das Forças Armadas

29 de Novembro de 2022  · 

“Já V. Exas. deram cabo das Forças Armadas”

Por Joaquim Letria

Está na moda desprezar os militares. Mas para arriscar o pêlo numa missão de paz vão os militares e não os pacifistas. Tal como para salvar um pinhal ou um eucaliptal, quem arrisca a vida são os bombeiros e os militares, e não os ecologistas. Assim como para ajudar a população civil numa catástrofe trazem-se os militares e as Forças de Segurança.

Estes políticos humilham o militar e impedem a sua capacidade de progressão com mais eficácia do que a torpeza antiga de rir do amor à Pátria, do conceito de honra e do sentido de serviço e disciplina, irrecusáveis para quem veste um uniforme. Também é moda ofender quem defende valores que deixaram de ser respeitados.

Os chefes militares mostram uma cuidada educação ao transformarem em moderadas queixas aquilo que deveria ser “uma sincera exposição das circunstâncias”. Porque estas, verdadeiramente, são as dos barcos não navegarem por falta de combustível e sobressalentes, os aviões não voarem por não haver dinheiro e o armamento não servir para nada porque é obsoleto.

As circunstâncias reais e verdadeiras são também a dos militares não poderem protestar, nem manifestar-se, nem convocar greves, nem levantar a voz, nem ameaçar com represálias nem provocar desordens sociais e terem de acatar o que lhes venha de cima. Talvez um dia possam, em sentido e com cortesia, dizerem aos políticos: ”Muitos parabéns! Já V. Exas deram cabo das Forças Armadas!”

«24 horas» de 13 de Novembro de 2009»

PROTEGENDO CABORA-BASSA

 PROTEGENDO CABORA-BASSA

Distrito de Tete, Província Ultramarina de Moçambique

1971-72

Um dos militares afecto à Companhia de Caçadores 2758 (CCac2758) a operar com o Batalhão de Caçadores 3843 (BCAÇ 3843) do Exército Português, no Distrito de Tete, na Província Ultramarina de Moçambique, em 1971-72, com um helicóptero "Alouette" III (ALIII) da Força Aérea Portuguesa (FAP) em segundo plano.

O "caçador" está armado com uma espingarda automática G3 A3, em calibre 7,62×51mm NATO, com a designação formal das Forças Armadas Portuguesas de "Espingarda automática 7,62 mm G3 m/961". A mesma está equipada com um dilagrama (com uma munição adicional visível mais à direita na foto).


(camarada Cambula do pelotão 2)

O dilagrama (m/965) é um dispositivo colocado no cano da arma, equipado com uma granada de mão defensiva (m/63), e que recorre a uma munição de salva específica para o efeito, cuja acumulação gases propulsiona a granada a uma distância superior àquela que o militar conseguiria por projecção manual.

O BCAÇ 3843 teve a sua área de intervenção, no Distrito de Tete, em redor da barragem de Cabora-Bassa, com 3 companhias na margem Norte e uma companhia na margem Sul. A Companhia de Caçadores 3356, a Nordeste, em Cantina de Oliveira (SPM 5664); a Companhia de Comando e Serviços (CCS) numa posição central em Chipera (SPM 5644); a Companhia de Caçadores 3357 mais a Leste em Chiringa (SPM 5674); e, a Sudeste do Songo, na Margem Sul, em Estima (SPM 5654), a Companhia de Caçadores 3355.

Chipera ( geo-referenciação -15.479468947085797, 32.487174588993305 , https://goo.gl/maps/cpwWzL48NpysnZKA6 ) é um povoado a cerca de 8 km a Norte da albufeira de Cabora-Bassa e a cerca de 30 km a Noroeste do paredão da barragem, junto ao Songo, em Moçambique.

Notícia publicada no site "Espada&Escudo"
(Foto por Furriel Miliciano Victor Pessa via CCS BCAÇ 3843)

JUSTIÇA PARA OS HERÓIS DE GUERRA

 JUSTIÇA PARA OS HERÓIS DE GUERRA

Os heróis de guerra, normalmente apelidados de ex-combatentes ou combatentes do Ultramar, são militares que lutaram pelo país, longe de casa, muitas vezes em cenários extremos.

Não trouxeram nada de África, a não ser feridas físicas e psicológicas, quando tiveram a sorte de voltar. Matarem ou serem mortos, por um país cujos ideais se transformaram e flexibilizaram. Eram quase todos de origem humilde e os que ainda estão vivos trabalharam com sacrifício, no anonimato, durante todo este tempo.

Desde o seu regresso a casa, há quarenta e cinco anos, que são desvalorizados pelos governantes e maltratados por uma sociedade doutrinada para lhes cuspir em cima. Pior ainda, são de tal forma ignorados pelas autoridades, que foi preciso passarem décadas para terem uma esmola do Estado.

Cuidados médicos especializados ou garantia de despesas com stress pós-traumático, nem pensar. Homenagens e justiça na carreira militar, muito tímidas.

A verdade é que há ódio e preconceito relativamente a estes homens, cujo rancor vem sobretudo de uma esquerda amarrada a doutrinas do passado.

Nos países mais civilizados, os militares que estiveram em guerras violentas, são agraciados, acarinhados, saudados em dias comemorativos. Para lá dos fantasmas ideológicos, há uma ingratidão superlativa de um país que não tem merecido o esforço heróico dos seus soldados.

E um país sem justiça é um país sem paz: Portugal permanecerá na vergonha enquanto não honrar estes seus heróis mortos e valorizar os que ainda estão vivos, com a pompa e circunstância de quem fez mais pelo país do que todos os políticos juntos.

(copiado de: Diogo Araújo Dantas)

domingo, 30 de outubro de 2022

SEM BICICLETA E BIDÕES...

SEM BICICLETA E BIDÕES, ESTAS MULHERES MOÇAMBICANAS NÃO SE CASAM

Debaixo de um sol abrasador nas ruelas em terra batida de Machaze, centro de Moçambique, as mulheres fazem as tarefas diárias de bicicleta, que a maioria ganhou como presente de noivado. São milhares a pedalar.

“A minha primeira bicicleta foi oferecida pelo meu marido”, emigrante na África do Sul, “para ajudar nas tarefas de casa”, diz à Lusa Síria Titosse, mãe de cinco filhos, que passa quase seis horas por dia a levar água e lenha para casa.

Após enfrentar 36 graus a pedalar 50 quilómetros, ida e volta, a moçambicana de 43 anos mantém um sorriso de boa disposição no fim da jornada, sugerindo não haver espaço para preguiça ao avançar para a rotina seguinte.

Síria vai transportar para casa 75 litros de água em três bidões.

É este tipo de tarefas que por tradição lhes cabe que leva as mulheres a não aceitarem um lar sem uma bicicleta.

Uma bicicleta e muita paciência: “Às vezes, vamos às três da madrugada para o fontanário e só conseguimos tirar água ao amanhecer, às cinco. Outras vezes vamos às 12:00 e só temos água às 16:00”.

Em Machaze, a bicicleta e os bidões são artigos obrigatórios no lobolo, um dote que por tradição se paga à família da noiva para se poder casar com ela.

“Casar sem bicicleta é complicado”, porque a igualdade de género é uma miragem e só com pedais as diferenças são atenuadas, frisa Adélia Nhambe, moradora de Mavonde.

“Primeiro, a mulher pergunta se tem bicicleta ou não. Sem bicicleta não aceitam”, explica, numa zona remota, a 80 quilómetros de Chitobe, a sede distrital de Machaze, onde a tradição se mantém enraizada.

“Não aceitam”, porque os costumes mandam-nas “carregar água, carregar lenha e ir à machamba”, as hortas familiares de subsistência, por vezes distantes das habitações, disse à Lusa.

E se o marido quer ir, apanha boleia, não costuma ser ele a pedalar.

A distância também é um desafio quando a água provoca doenças, quando fica imprópria para consumo e as mulheres têm de procurar alternativas – e também são elas que devem levar as crianças para o hospital.

Elisa Filipe equilibra muita carga à cabeça nas rotinas diárias, mas tanto bidão de água “seria impossível”, conta à Lusa, com uma mão no guiador e outra na carga que leva no assento traseiro.

Geralmente pedala num grupo, até uma dúzia de mulheres que fazem os percursos em conjunto.

As bicicletas e os bidões são comprados na África do Sul por mineiros moçambicanos que trabalham naquele país.

É comum ver veículos de transporte coletivo a atravessar a fronteira com reboques sobrecarregados de mercadoria que não existe nas aldeias remotas do país.

Em Moçambique, é preciso pagar taxas para andar de bicicleta, mas em Machaze estão isentas.

“É para facilitar o trabalho doméstico”, justifica Queface Fombe, secretário-permanente do governo distrital, numa terra de povoados dispersos, com escassez de água potável, escolas e centros de saúde.

Há perfurações em curso para descobrir fontes, mas muitas vezes não jorra nada, lamenta o dirigente.

Os poucos furos abertos com sucesso atraem milhares de pessoas de várias zonas.

Enquanto se espera por mais água potável e outros serviços públicos, as mulheres de Machaze vão continuar a fazer a vida em cima de bicicletas.


sábado, 15 de outubro de 2022

MOÇAMBIQUE

Olá excelsos e excelsas.

Segue  este alerta em jeito de conselho,  do meu amigo Pinto,   homem do Norte e como tal portista dos sete costados, camarada  de tarefas árduas no palco da   guerra colonial em Moçambique   que a lotaria  juntou,   por termos nascido ali bem a  meio do passado século.

O que os nossos progenitores se haviam de ter lembrado,  “ fazer máquina” (truca truca  no léxico indígena),  em 1950 com resultados  que serviram para criação  de carne para canhão,  uns anos depois.  

Como sempre,  o Pinto está atento ao que o rodeia, não vai em cantigas e em vez de perder tempo a espreitar a Correio da Manhã TV  e outras alienações que pululam   por aí como cogumelos nas primeiras águas outonais (os célebres tortulhos designação cá no meu Alentejo) e vai dar com programas de outro nível  como este que nos aconselha.

Se ainda não estiverem completamente “depenados”, (embora para lá caminhem, descansem)  para poderem aguentar alguns canais   de qualidade, vejam o programa aconselhado pelo Pinto e  ao mesmo matem saudades daquela terra onde deixámos um bocado de nós, mas não viemos sós,  trouxemos também um bocado deles, da sua pobreza endémica, do seu batuque, da sua fome,  mas também das suas  aspirações de um dia poderem ser “gente grande”  como o eram, na altura,  os “engenheiros dos Cabora Bassa”.


Bem sei que na TV  só poderão apreciar  aquele país em macro, com muitas imagens vindas do céu.

Mas como nós gostaríamos de voltar a recordar a paisagem vista da  terra ,   em micro,  não a física mas  a humana, aquela dos sentimentos, da camaradagem    das experiências vividas, das aspirações ali sonhadas que havíamos de concretizar quando acabasse o pesadelo.

Recordaríamos, entre tantas,  as mais intensas, aquelas que a chegada com pezinhos de lã do alemão não conseguirá   dissipar e irão connosco para a eternidade.

O dia da nossa chegada em Agosto de 1972 àquele buraco  do fim do mundo perigoso e traiçoeiro

Os primeiros  contactos  com os nativos e o seu modo de viver

O batuque de fim de semana,  numa prova incrível de resistência, alimentado pela cachaça,  mistura de néctares que fermentados de forma ancestral,   punham a cabeça grossa e  adormeciam com as bebedeiras,  os infortúnios da vida.

A Isaura,  sempre disposta a abafar os suspiros,  da testerona insubmissa  de rapazes de 20 anos,  no máximo dos instintos carnais, a troco de um punhado não de dólares, como no filme,   mas de uma lata de sopa sobrante do rancho de almoço no aquartelamento.

A loucura do soldado Peres que ameaçou o comandante de G3 na mão por este lhe negar  umas cervejas para levar para o degredo do Machesso,  onde se aventurou  a tomar conta de  umas milícias locais, aculturando-se no batuque e nos casamentos com mulheres de vergonhas ao léu,  em troca de latas de sardinha de conserva.

E também a mesma loucura do soldado Afonso, este por ser rês de maus instintos que   por cisa de nada, correu a rajada de metralhadora já no Parque da Gorongoza o nosso capitão, homem bom e generoso de fim de comissão que não merecia tão imbecil  hospitalidade .

Mas também recordaríamos a atitude de alguns mais esclarecidos politicamente como o Teixeira,  homem de lutas no meio estudantil de Lisboa que a PIDE foi lá prender e o Marquês que  no silêncio da sua amargura,  escreveu  páginas de protesto contra a guerra, no diário sempre escondido no fundo do baú, como aquela que li e jamais esqueci de chegar ao aquartelamento num Unimog ver crianças a pedir restos de comida, os outros a descerem e  correrem em direcção  ao banho e ele prontificar-se a recolher umas latas de conserva intragáveis, espalhadas no estrado da viatura,  dar uma lata a cada criança no fim beijar uma delas e receber  dela como resposta num português arcaico  à moçambicana  

Nunca vi nada assim. U sinhori é mesmo muito boa pissoa.

Pronto, não escrevo mais. Quando recordo o Marquês fico logo com  uma lágrima no canto do olho.

Com os melhores cumprimentos 

José Abílio Mourato

Portalegre

sexta-feira, 29 de julho de 2022

MINAS ERA O FORTE DA GUERRILHA

ABRIL DE 1972 MINAS ERA O FORTE DA GUERRILHA

Numa operação junto do Chipute no regresso em dia chuvoso no dia 16-04-1972 quando a coluna militar regressava à Chiringa eis que foi acionada uma mina anticarro. por um Unimogue 404 conduzido pelo Soldado Francisco Caeiro caso curioso dois furriéis desentenderam-se que queriam ocupar o lugar ao lado do condutor Caeiro, ficou no lugar Furriel Freire, o Furriel enfermeiro. 

Todos estavam encharcados, as viaturas à imenso tempo que transportavam sacos de areia para oferecerem resistência ao rebentamento das minas. 

Só que nesse dia, os respectivos sacos deviam de pesar o triplo, pois estava tudo encharcado. 

Ocorre o acionamento da mina esta explosão por sinal bastante violenta, todos os militares transportados na viatura são cuspidos em todas as direcções, a explosão foi de tal ordem que a viatura ficou em sentido inverso aquele que seguia. 

Tudo ficou em pé de guerra, tinha passado uma Berliet sem problemas, e surge a surpresa. 

Resultado um ferido aparentemente com gravidade, solicitamos a evacuação o helicóptero demora uma eternidade o Furriel a evacuar dá pouco acordo de si deita sangue da boca prevê-se algo de grave. 

Com a demora do tempo de evacuação o Furriel Freire começa a reagir, os militares que o rodeiam começam a ficar aliviados apesar deste não fazer sentido algum tipo de conversa que ia tendo. 



Sendo um Furriel de características especiais, em rega geral todos gostavam da sua loucura permanente, ninguém sabia como ser o mais útil possível a tremendo sinistrado. 

Passado imenso tempo foi evacuado, tinha muita dor de costas seguiu para o hospital do Songo passado dias regressa de novo à Chiringa todo empenado e torto pois tinha quebrado duas vértebras, disse o médico que o assistiu, se têm sido as vértebras seguintes corria o risco de ficar numa cadeira de rodas. 

Passado dias recebemos a visita dos Senhores Coronel Rodrigo da Silveira e Major Galeano. 

Com o Senhor Comandante do CODCB Coronel de Cavalaria Rodrigo da Silveira, eu por sinal sentia sempre uma certa orticária na presença Dele, pois o mesmo, era militar exigentíssimo, pessoa muito competente, e tudo tinha de ser feito como mandava, de tal maneira, que até intervinha no procedimento das transmissões, claro que me saltava a tampa, mas fazendo das tripas coração, fazia sentir ao Senhor da Guerra que as transmissões tinham procedimentos adequados e nunca podiam ser alterados em função de qualquer Comandante. 

Por norma estávamos em desacordo, mas creio que Ele procedia assim comigo, porque no fundo gostava de me ouvir, e tinha uma boa impressão minha, como Furriel de transmissões, mais do que uma vez o participou ao nosso Comandante de Companhia o Capitão Duarte Salvado da Cunha Raimundo. 

Nessa visita relâmpago, o Senhor Coronel, estava um pouco adoentado, mas queria estar sempre encima do acontecimento, vai para o posto rádio, deita-se numa cama de um operador, e aguarda resposta de uma operação que estava a decorrer na zona das minas, eis que nos apercebemos, que ocorreu algo de muito grave na Coluna de Tete, para o Songo. 

Sim tinha explodido, o carro de explosivos de transporte desse material para Cabora Bassa, o Senhor Coronel cheio de dores de estômago, mais aquele desaire de uma explosão de 7.000Kg de explosivos o Senhor  ficou transtornado. 

Resultado:

Partiu para Estima, afim de se inteirar do problema em pormenor. Da viatura que explodiu, apenas ficou maior as rodas dentadas da caixa de velocidades, num raio de acção de quinhentos metros, tudo plano, abre uma cratera na estrada alcatroada onde cai a viatura militar esta fica abaixo do plano da estrada, os ocupantes da viatura sinistrada, desintegraram-se, militares mortos entre eles um Furriel de uma Companhia que apoiava a nossa CCS na Chipera. 

Aconteceu nesse dia que o técnico dos explosivos dos transportes fez a maior mina encima de uma viatura de toda a Guerra do Ultramar Português pois colocou no meio dos explosivos seguramente os detonadores o carro militar tinha ordem de disparar sobre qualquer viatura que o tentasse ultrapassar  cumpriu com a ordem recebida e deu-se o incidente. 

Tudo fico calado perante este facto só o Distrito de Tete na área militar teve conhecimento de tal ocorrência nem a guerrilha se atreveu a tanto espero que a criatura que fez a asneira nunca tenha sido condecorado ou louvado. 

Gostava imenso de saber o resultado do inquérito levantado.

quinta-feira, 28 de abril de 2022

O PRÉ!

O António Fidalgo nas suas crónicas diárias publicou hoje este texto a que eu não resisti de compartilhá-lo com a comunidade.

Disse ele:

"Hoje alguém na página da C.CAÇ.3357 entendeu por bem abordar o tema do PRÉ e descreveu na totalidade de qual a sua origem e como os militares o recebiam. Recordo que quase se tornava vexatório toda aquela forma de proceder. 



Assim deixo por baixo a foto do 1º pré que o Estado Português me pagou no S.M.O. na minha recruta nas Caldas da Rainha. Onde tirei a recruta no curso de Sargentos Milicianos. Hoje em dia ouvem-se vozes de novo a gritar pelo Serviço Militar Obrigatório.  

Eu sou contra o dito serviço igual ao do passado, porque as famílias eram obrigadas a sustentar as despesas, que o militar tinha, para servir o Exército Português, é exigido ao militar a higiene pessoal nos primeiros meses diariamente barba, cabelo cortado e botas engraxadas, isto tudo há conta do próprio. 

O rancho geral era mau, quase em todas as unidades, por isso sentíamos necessidade de comer algumas refeições fora das instalações militares. Logo mais uma vez os nossos Familiares a contribuir. Como tal S.M.O. sim, mas assumam as despesas dos militares. 

Eu por sinal fui apoiado pelos meus Pais, para o efeito, Atenção havia muito jovem órfão de Pai e Mãe.  O meu filho fez parte do último turno do S.M.O. mais uma vez fui chamado a sustentar, a brilhante ideia de tal serviço.. 

Ainda hoje, pergunto porque razão o Estado Português tem uma adoração especial por esta família, FIDALGO pois desde a 1ª Guerra Mundial Avô, o meu Pai, Eu até ao meu Filho todos fomos fazer o S.M.O. certamente no passado tínhamos uma grande dívida para com a PÁTRIA Portuguesa, espero já a termos saldado. 

Aqui está o ridículo PRÉ eu não era praça rasa."

sábado, 9 de abril de 2022

28º ENCONTRO DO BCAÇ 3843

28º ENCONTRO DO BCAÇ 3843 - VISEU

O 28º Encontro do BATALHÃO DE CAÇADORES 3843, já se realizou conforme previsto no dia 28 de Maio.
Estas são algumas das fotos do evento para quem não compareceu no 28º Encontro. Uma logística preparada ao pormenor para que não faltasse nada aos meus amigos, camaradas e respectivas famílias.

Abraço a todos.

































terça-feira, 8 de março de 2022

AS ENFERMEIRAS PARAQUEDISTAS - DIA DA MULHER

A propósito do DIA DA MULHER, trago hoje um pequeno excerto de uma publicação sobre as seis Marias paraquedistas.

"AS ENFERMEIRA PARAQUEDISTAS"

A 6 de Junho de 1961, apresentaram-se em Tancos 11 corajosas mulheres, que tinham de ser solteiras ou viúvas sem filhos e com idade compreendida entre os 18 e os 30 anos. Apenas seis alcançaram o brevê: as “Seis Marias”.


Equiparadas a militares, eram sujeitas a um rigoroso treino, exatamente igual ao dos homens, usavam uniforme e camuflado e tinham patente militar.

Como funções, estas enfermeiras tinham as de assistir feridos em locais de combate, muitas vezes debaixo de fogo, fazer evacuações dentro do território africano e entre as colónias e a metrópole de combatentes feridos ou doentes e dos seus familiares, bem como das populações locais. Trabalharam em diversos hospitais, como no Hospital Militar Central, no Hospital da Força Aérea de Lisboa, no Hospital das Forças Armadas na Ilha Terceira, nos Hospitais de Luanda, Lourenço Marques, Nampula e Guiné-Bissau e nos postos médicos das tropas paraquedistas da Força Aérea no continente e nas colónias. Participaram igualmente em evacuações em Goa e em Timor.

Entre 1961 e 1974, realizaram-se nove cursos, onde se formaram 46 enfermeiras paraquedistas, 23 delas oficiais e as restantes sargentos. A sua última missão, em 1976, consistiu na. evacuação de civis de Timor para Lisboa.

Ao longo de mais de uma década no teatro de guerra apenas há a lamentar uma morte, a de Celeste Ferreira Costa, atingida pela hélice de um helicóptero na Guiné.

Num tempo em que às mulheres era reservado o papel de “fada do lar”, elas romperam com o socialmente estabelecido e contribuíram para uma nova imagem da mulher, daí não admirar que tivessem honra de primeira página nos jornais e revistas e nos noticiários da rádio e da televisão.

Eram eles quem combatia e prestava os primeiros socorros nos teatros de operações em Angola, Moçambique e Guiné, onde as enfermeiras paraquedistas os iam depois buscar e transportar para os hospitais de retaguarda. "Levantavam bastante o moral" das tropas, garante aquele oficial paraquedista na reforma.

Os enfermeiros eram militares a quem se dava um curso de enfermagem, enquanto elas já eram enfermeiras de origem - e a confiança que inspiravam nos feridos era tanta que se criou quase uma lenda no campo de batalha: acreditava-se que quem chegasse vivo ao helicóptero "tinha uma grande probabilidade de sobreviver".


Além dos teatros de guerra africanos, algumas das primeiras enfermeiras paraquedistas participaram logo em dezembro de 1961 - e em maio de 1962 - na evacuação de civis e prisioneiros militares portugueses de Goa para Portugal.

Duas das enfermeiras, que ficaram conhecidas como as "Seis Marias", foram condecoradas a título póstumo: Maria Zulmira Pereira André e Maria Nazaré Morais Rosa de Mascarenhas e Andrade.

As outras quatro foram Maria Arminda Lopes Pereira Santos, Maria do Céu da Cruz Policarpo Vidigal, Maria Ivone Quintino dos Reis e Maria de Lourdes Rodrigues.

"Reconhecer o seu mérito é de inteira justiça", disse o tenente-coronel paraquedista Miguel Machado, diretor do site especializado Operacional, adiantando que essas enfermeiras "completavam o trabalho dos enfermeiros paraquedistas que estavam na linha da frente".