segunda-feira, 5 de abril de 2021

O BATUQUE

Com esta temperatura a que estamos sujeitos, veio-me à memória as noites quentes em África, no meio do mato. Como não havia muito por onde escolher (não havia mesmo nada por onde escolher) íamos por vezes ao aldeamento próximo assistir a uma batucada.

O BATUQUE


Há um preceito que todo o indígena cumpre: o preito a Terpsicore.

"Batuque" - dança café - que lhe conste, a léguas de distância que ele tenha lugar, longe que fareje. 

Ele aí vai, traje de gala: plumas de avestruz, de aigreta, de outras aves, cobrindo-lhe a cabeça; uma pele de animal selvagem envolvendo-lhe o tronco; anilhas pelos braços; amuletos ao peito, rabos de boi pendendo-lhe dos braços e das pernas e das pernas ... 

0 batuque tem lugar a propósito de tudo: casamento, nascimento, morte; um propósito de um facto tornado notável; a qualquer pretexto ou até, o que é mais simples, um pretexto algum. 

Mas o fim do batuque não é como pode parecer dançar: é beber! 

E, por isso a dança vai terminar "naturalmente, por falta de gente que ébria vai ficando a dormir, tal e qual que contraste! - o tempo áureo de requintada elegância dos imperadores romanos nas chamadas bacanais de Roma. 

E, finalmente, bem definida bem definida fica a atração que todo o indígena tem para a dança - 0 batuque - afirmando o que os europeus em contato com eles e observadores, sintetizam nesta frase: "e preciso que um homem ou uma mulher, de qualquer idade que seja, disponível completamente impossibilitado de se mover, para se resistir ao apelo do batuque "! Ainda que em alguns casos a música seja harmónica na maioria das vezes porém, não o é. 

Pelo contrário, simples ruídos, constantemente repetidos horas e dias, marcam o compasso da dança . 

A letra é quase sempre sem significado, ou pouco a propósito, misturando-se como frases guerreiras - se é batuque de guerra - com frases obscenas. 

Texto: Memórias d'África e d'Oriente

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