quinta-feira, 11 de junho de 2020

O CHARCO DOS PORCOS

O charco dos porcos.
Estávamos em Novembro de 1969.
Em África a época das chuvas já se tinha iniciado há algumas semanas e, com ela, o calor manifestava-se de forma abrasadora.
Em Tete, por essa altura, a temperatura média ultra passava os 40°, tornando o ar seco, quase irrespirável.
Ao meu pelotão é atribuída uma missão de três dias, que tinha como finalidade detectar uma base inimiga localizada na nossa zona de acção e, que segundo informações obtidas de um prisioneiro, se situaria entre as aldeias da Majanja e do Ponde, a Sul de Vuende.
Com o Alferes cmdt. do pelotão de férias na Metrópole, assumi o comando do respectivo pelotão, já que era o mais graduado.
Depois dos preparativos que antecediam uma saída para o mato, o grupo iniciou o deslocamento em viaturas para a Majanja, onde nos apeámos para então iniciarmos a progressão a pé, em direcção ao ponto indicado pelo prisioneiro. Andámos uns quilómetros e com o calor que já se fazia sentir, procuramos um lugar apropriado para descansarmos e também para comermos a ração de combate e aguardar que a temperatura amenizar um pouco.
As árvores, de copa pequena pouca sombra davam, tornando difícil a escolha, depois os mosquitos não nos deixavam em paz, o que nos irritava!
Reiniciada a progressão em direcção ao objectivo, eis que deparamos com um aldeamento e, a esperança de obtermos água. Os cantis, na sua maioria encontravam-se com pouca água. Interpelados os nativos de onde retiravam a água, estes apontaram para um local que mais não era que um charco, onde vários porcos se revolviam na lama. Desilusão total!
Alguns não resistiram à tentação e beberam-na, não esperando uma hora para que a pastilha (quinino) actuasse.

O dia aproximava-se do fim e a escuridão caía rapidamente. Havia que escolher um lugar seguro para se passar a noite. Com o tempo quente não era necessário a montagem de qualquer tenda. O maior perigo poderia advir da presença de répteis entre a folhagem e da mordedura de algum.
Novo dia!
A alvorada no mato dava-se muito cedo. O acender de um cigarro era instintivo! Era um momento só nosso! Só depois deste ritual é que vinha o leite achocolatado e o pão seco já do dia anterior.
A caminhada reiniciava-se.
O trilho agora levava-nos em direcção a uns montes que eram a fronteira da nossa zona de acção. Ultrapassá-los significava a possibilidade de encontrarmos tropas africanas e de confundi-los com o In.
A debilidade física, sintomas de má disposição, cólicas itenstinais e vómitos que afectavam vários militares, traziam problemas ao grupo.
Interrogado o prisioneiro, este já não dizia coisa com coisa, o que nos levou a bater apenas a base dos montes, mas sem resultado algum. O enfermeiro que nos acompanhava ia distribuindo pastilhas. Na bolsa de enfermagem pouco mais haveria que pudesse ajudar. Alguns dificilmente se aguentavam de pé, não dava para acreditar!
Era necessário encetar o regresso! Consultada a carta, é escolhida uma linha de água que nos levaria à Majanja.
A ira contra o prisioneiro aumentava, acabando este por sofrer, à socapa, com a retaliação de alguns. Com muito custo chegámos à aldeia da Majanja, onde pernoitámos numa cantina ali existente. Seria penoso submeter o grupo ao sacrifício de uma marcha de oito quilómetros até ao quartel. Assim recrutamos um estafeta (com bicicleta) para levar uma mensagem ao nosso Capitão a expor a delicada situação e a solicitar o nosso regresso.
O ruído dos unimogues começou a ouvir-se ao longe.
Era o alívio que se aproximava!
Joaquim Santos, Fur.Mil. Atir. C.Caç.2359

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