terça-feira, 21 de abril de 2020

21 DE ABRIL DE 2020

21-4-2020
Faz hoje 49 anos que no velho NIASSA zarpávamos de Alcântara-Mar rumo a Moçambique.
Sem qualquer nostalgia, deixa-me recordar o essencial. Após a instrução da especialidade no RI 15 (Tomar) e da instrução de aperfeiçoamento operacional em Santa Margarida, embarcamos no caminho de ferro até Alcântara Mar.

Após as formalidades inerentes ao embarque, lá zarpámos para inicio da viagem.
No tombadilho do navio com o Capitão Melo, Capitão Raimundo e com o Nicolau, conversávamos sobre o destino do nosso Ultramar.
Bons tempos em que o Capitão Jeremias nos animava com as suas áreas ao piano e em que o Nicolau prontamente aprendeu a jogar o bridge (só com observação).
Parámos em Luanda e sinto saudades da banda militar a tocar “Angola é nossa” e eu vos ordenei a posição de sentido.
Eu era o Comandante Militar a bordo e o Comandante de Bandeira era o Capitão Tenente Fiandeiro, o que permitiu um relacionamento extraordinário.
Foi assim que na passagem do Cabo simulámos o desembarque, tendo para o efeito sido lançada a escada de portaló.
Depois a orquestra tocava o “barrete sobre a orelha” e houve um animado beberete. Chegámos a Lourenço Marques (e não a Maputo, que é o nome de um rio) a 13 de Maio. Comemorava-se o 13 de Maio na Namacha e, por isso, a cidade estava deserta.
Atracámos atrás do ANGOCHE com um rombo de uma explosão.
Recebemos o Movimento Nacional Feminino que nos entregou aerogramas e bolas de futebol. Visitámos essa maravilhosa “Pérola do índico”, a capital de Moçambique. No trajecto de Lourenço Marques para a Beira fomos brifados pelos Chefes de Repartição do Quartel General, a quem pedi para adocicarem a situação da guerra. Desembarcámos na Beira onde fomos integrados por 3 Grupos de Mesclação de tropas de Moçambique que completaram as companhias operacionais.
Aquando das minhas palavras de recepção chamei o Capitão Jeremias, dando-lhe nota de quanto seria profícua a sua integração.

Seguimos, então, de Caminho de Ferro até Moatize, donde seguimos em coluna alta para os nossos destinos no dia seguinte. Aí pernoitamos (na vinda para a Zambézia já possuía uma ponte cujo projecto foi elaborado pelo eminente Engenheiro Edgar Cardoso).
No dia seguinte lá fomos a caminho do destino. Na Estima ficou a Companhia 3355 que comboiava as colunas cimenteiras de Moatize para o Songo, chegando a atingir 3 km de extensão.
Ainda se encontrava na Estima o COFI (Comando Operacional das Forças de Intervenção), mais tarde substituído pelo CODCB (Comando Operacional da Defesa de Cahora Bassa).
Quando chegámos à Chicoa, o “Almirante” Coutinho foi  primeiro embarcar um hipopótamo que boiava no rio Zambeze e só depois nos transbordou.

A Companhia de Caçadores 3356 seguiu para Norte indo basear-se na Cantina de Oliveira, onde teve uma missão difícil, pernoitando em abrigos térreos.

Chegámos já de noite, no dia 16 de maio, à Chipera.
A Companhia de Caçadores 3357, por força do sucedido com o hipopótamo, só seguiu ao seu destino no dia seguinte. Aí sofremos as primeiras acções inimigas e sofremos as primeiras baixas quando as colunas que se deslocavam à Chicoa accionavam as primeiras minas.

Em Dezembro de 1971, o Movimento Nacional Feminino ofertou-nos um disco com fados e alusões da Amália Rodrigues e uma mensagem do Eusébio (ambos jazem no Panteão Nacional).
Na rotação para a Zambézia, em Setembro de 1972, puderam então visitar o Songo com um píparo lanche de despedida, visitando a barragem quase na sua fase última de construção.
 
Quando lá chegamos, só existia a ensecadeira e o desvio do rio Zambeze. Das forças que integraram a guerra do Ultramar, de Angola, Guiné e Moçambique, se podem orgulhar de ter cumprido na sua globalidade a missão confiada. Lá está a barragem, lá ficou o aldeamento da Chipera com substancial apresentação de populações operadas no nosso tempo.

Deixámos uma Zambézia totalmente pacífica, depois de em tempos na década de 60 se ter operado várias acções de guerrilha. Que todos nós com fé, esperança e coragem e a protecção do nosso Capelão Padre Augusto, consigamos ultrapassar este momento difícil da pandemia que enfrentamos. Aquele abraço.

António Figueiredo - comandante do BCAÇ3843

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