terça-feira, 14 de agosto de 2018

COISAS DA GUERRA COLONIAL


Coisas da Guerra Colonial, de Moçambique, Tete e da Chipera:

Amigos:
Faz hoje, dia 06.08.2018,  46 anos que partíamos num BOEING das forças Armadas  rumo a Moçambique, integrados na C.CAÇ 4241
Como já vai distante aquele dia 6 de Agosto de 1972
Éramos jovens,  todos com 21 ou 22 anos, atirados para uma aventura rumo ao desconhecido, ao perigo e  ao sofrimento,  durante 2 anos, o tempo que demoravam as comissões,  fora o “mata-bicho”, como então o baptizávamos,   que eram sempre mais 2 ou 3 meses, até que fossemos rendidos.
Como eram  difíceis ultrapassar  aqueles últimos meses de comissão.

Dos que tombaram por lá,  aos que entretanto faleceram,  ainda por cá andam alguns  para recordar  as memórias daqueles tempos vividos por jovens de Norte a Sul e ilhas que o acaso juntou e que viveram experiências comuns que jamais se apagarão da nossa alma.
Somos uns felizardos, os que por cá continuam,  agora que estamos  quase a atingir o estatuto de septuagenários.

Hoje,  no dia de mais um aniversário do  nosso embarque, quero enaltecer o espírito de camaradagem que desenvolvemos naquelas paragens de fim do mundo.
A  amizade e laços de fraternidade  que desenvolvemos  não foi só entre nós,  mas também com as populações locais a viver no maior estado de abandono  e sofrimento.
A este propósito,  lembram-se do Régulo Ventura, exímio negociador com a tropa de “troca galinha por cerveja fresca” ,  que estava no aldeamento da  Chiboeia onde tínhamos um pelotão sempre destacado?

Através da internet quis o acaso que fosse dar  com um dos mais de 30 filhos do  velho Régulo, o Rafael Ventura,  que em 1972 tinha apenas  2 anos e que foi viver com a mãe para a Estima, mal conhecendo o pai, entretanto assassinado  em 1987 na guerra civil entre a Renamo e a Frelimo  O Rafael,  rapaz culto e educado, com esforço e dedicação  venceu o estigma dos desfavorecidos da vida e é hoje um jovem quadro de Moçambique  vivendo em Maputo.


Há dias visitou Portugal e combinámos encontrarmo-nos em Portalegre ele, eu, o Ferreira e o Nuno.
Foi um dia de recordações inesquecível, o Rafael contou-nos,  entre outras  coisas que em 2014 desceu às suas origens foi visitar a Chiboeia e alguns familiares que ainda lá vivem. Foi de Barco  pelo lado da Estima, atravessou o regolfo da Barragem de Cabora Bassa, (quase 2 horas de percurso - antes de batelão na Chicoa, ainda sem a barragem,   fazia-se em 20 minutos) ) guinou para a esquerda e  desembarcou próximo da Chiboeia (Chissete como se chama agora) que está quase toda coberta de  água mas que continua com população,  agora dedicada à pesca,  o principal alimento.


Neste dia do nosso 46º.  aniversário de embarque para Moçambique, envio-vos algumas fotos do nosso encontro em Portalegre, assim como  uma do velho Régulo CHIBOEIA,  um novo mapa de Tete com a designação dos lugares à Portuguesa e um relatório actualizado,  em 2014 sobre os índices de desenvolvimento actual (quase igual ao do nosso tempo) do distrito de Marávia ao qual pertence a mítica Chipera onde queimamos 2 anos da nossa melhor  juventude  mas que nos enriqueceu sob o aspecto de maturidade e responsabilidade de meninos acabados de sair debaixo das saias da mãe.

Um abraço do Mourato  
José Abílio Mourato - Furriel Miliciano

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