Não se pode esquecer
Chipera. Tete. Moçambique.
Sábado, 21 de Julho de 1973.
Passaram 45 anos.
Nesse dia escrevia eu no meu diário: " Hora triste aqui em Chipera. Hora de luto. Morreu o Cláudio, o furriel Cláudio. Estou indeciso se hei-de escrever ou não o que se passou. Decido a fazê-lo. O futuro e os homens do meu país hão-de saber a juventude que sacrificam.
Os factos sucederam-se instantaneamente, em torrente. Não foi preciso 2 horas para se passar da Berliett minada e dos dois feridos graves para a morte do Cláudio. Passavam poucos minutos da 1 da tarde quando o Viegas de Sousa entra no meu quarto e diz que o Ferros foi ao ar.
-Parece que vinha do Macane para o Machesso de rebenta-minas, disse o V. de Sousa. 2 feridos graves e 2 ligeiros. Como teria ficado o Ferros, perguntava-se.
Momentaneamente o caso cai no esquecimento. Só por uns minutos até chegar o alferes Castro a ordenar ao furriel Brasil para fazer uma 2ª mensagem a pedir rapidez na evacuação. Quem são os feridos, pergunto eu.
O Coimbra, o Moreno e o Cláudio. Passados mais uns largos minutos, a triste nova cai, fria, nua, dilacerante: o Cláudio morreu. E todos os que estavam neste quarto sentiram um baque no coração. A imagem do Cláudio, faces queimadas, ombros para o largo, perpassou pela minha memória.
Conhecia-o desde a recruta em Santarém dois anos antes. O que dirão a isto os donos do meu país que exploram o povo destas terras, os Mellos, Os Chapas, os Bulhosas.
Que dirão eles se eu lhes disser que o Cláudio, quando foi de férias, há 3 meses, criou o seu lar, e, mesmo sem ter casado, já trazia a aliança no dedo?
Imagem terna não é, senhores capitalistas?
Para vós é mais um entre tantos, que importa.
Mas talvez um dia isto mude, senhores.
E mudou.
Não morreram mais Cláudios.
António Marquês
Chipera. Tete. Moçambique.
Sábado, 21 de Julho de 1973.
Passaram 45 anos.
Nesse dia escrevia eu no meu diário: " Hora triste aqui em Chipera. Hora de luto. Morreu o Cláudio, o furriel Cláudio. Estou indeciso se hei-de escrever ou não o que se passou. Decido a fazê-lo. O futuro e os homens do meu país hão-de saber a juventude que sacrificam.
Os factos sucederam-se instantaneamente, em torrente. Não foi preciso 2 horas para se passar da Berliett minada e dos dois feridos graves para a morte do Cláudio. Passavam poucos minutos da 1 da tarde quando o Viegas de Sousa entra no meu quarto e diz que o Ferros foi ao ar.
-Parece que vinha do Macane para o Machesso de rebenta-minas, disse o V. de Sousa. 2 feridos graves e 2 ligeiros. Como teria ficado o Ferros, perguntava-se.
Momentaneamente o caso cai no esquecimento. Só por uns minutos até chegar o alferes Castro a ordenar ao furriel Brasil para fazer uma 2ª mensagem a pedir rapidez na evacuação. Quem são os feridos, pergunto eu.
O Coimbra, o Moreno e o Cláudio. Passados mais uns largos minutos, a triste nova cai, fria, nua, dilacerante: o Cláudio morreu. E todos os que estavam neste quarto sentiram um baque no coração. A imagem do Cláudio, faces queimadas, ombros para o largo, perpassou pela minha memória.
Conhecia-o desde a recruta em Santarém dois anos antes. O que dirão a isto os donos do meu país que exploram o povo destas terras, os Mellos, Os Chapas, os Bulhosas.
Que dirão eles se eu lhes disser que o Cláudio, quando foi de férias, há 3 meses, criou o seu lar, e, mesmo sem ter casado, já trazia a aliança no dedo?
Imagem terna não é, senhores capitalistas?
Para vós é mais um entre tantos, que importa.
Mas talvez um dia isto mude, senhores.
E mudou.
Não morreram mais Cláudios.
António Marquês
Sem comentários:
Enviar um comentário
O BCaç 3843 agradece o seu comentário.