Coisas
da Guerra Colonial, de Moçambique, Tete e da Chipera:
Amigos:
Faz
hoje, dia 06.08.2018, 46 anos que partíamos num BOEING das forças
Armadas rumo a Moçambique, integrados na C.CAÇ 4241
Como
já vai distante aquele dia 6 de Agosto de 1972
Éramos
jovens, todos com 21 ou 22 anos, atirados para uma aventura rumo ao
desconhecido, ao perigo e ao sofrimento, durante 2 anos, o tempo
que demoravam as comissões, fora o “mata-bicho”, como então o
baptizávamos, que eram sempre mais 2 ou 3 meses, até que fossemos
rendidos.
Como
eram difíceis ultrapassar aqueles últimos meses de comissão.
Dos
que tombaram por lá, aos que entretanto faleceram, ainda por cá
andam alguns para recordar as memórias daqueles tempos vividos por
jovens de Norte a Sul e ilhas que o acaso juntou e que viveram experiências
comuns que jamais se apagarão da nossa alma.
Somos
uns felizardos, os que por cá continuam, agora que estamos quase a
atingir o estatuto de septuagenários.
Hoje,
no dia de mais um aniversário do nosso embarque, quero enaltecer o
espírito de camaradagem que desenvolvemos naquelas paragens de fim do mundo.
A
amizade e laços de fraternidade que desenvolvemos não foi só entre
nós, mas também com as populações locais a viver no maior estado de
abandono e sofrimento.
A
este propósito, lembram-se do Régulo Ventura, exímio negociador com a
tropa de “troca galinha por cerveja fresca” , que estava no aldeamento
da Chiboeia onde tínhamos um pelotão sempre destacado?
Através
da internet quis o acaso que fosse dar com um dos mais de 30 filhos
do velho Régulo, o Rafael Ventura, que em 1972 tinha apenas 2
anos e que foi viver com a mãe para a Estima, mal conhecendo o pai, entretanto
assassinado em 1987 na guerra civil entre a Renamo e a Frelimo O
Rafael, rapaz culto e educado, com esforço e dedicação venceu o
estigma dos desfavorecidos da vida e é hoje um jovem quadro de Moçambique
vivendo em Maputo.
Há
dias visitou Portugal e combinámos encontrarmo-nos em Portalegre ele, eu, o
Ferreira e o Nuno.
Foi
um dia de recordações inesquecível, o Rafael contou-nos, entre outras
coisas que em 2014 desceu às suas origens foi visitar a Chiboeia e alguns
familiares que ainda lá vivem. Foi de Barco pelo lado da Estima,
atravessou o regolfo da Barragem de Cabora Bassa, (quase 2 horas de percurso -
antes de batelão na Chicoa, ainda sem a barragem, fazia-se em 20
minutos) ) guinou para a esquerda e desembarcou próximo da Chiboeia
(Chissete como se chama agora) que está quase toda coberta de água mas
que continua com população, agora dedicada à pesca, o principal
alimento.
Neste
dia do nosso 46º. aniversário de embarque para Moçambique, envio-vos
algumas fotos do nosso encontro em Portalegre, assim como uma do velho
Régulo CHIBOEIA, um novo mapa de Tete com a designação dos lugares
à Portuguesa e um relatório actualizado, em 2014 sobre os índices de
desenvolvimento actual (quase igual ao do nosso tempo) do distrito de Marávia
ao qual pertence a mítica Chipera onde queimamos 2 anos da nossa melhor
juventude mas que nos enriqueceu sob o aspecto de maturidade e
responsabilidade de meninos acabados de sair debaixo das saias da mãe.
Um
abraço do Mourato
José Abílio Mourato - Furriel Miliciano