sábado, 21 de dezembro de 2019

NATAL DE 1971


Ao visualizar (conforme a minha equidade visual) o Facebook alusivo ao Natal de 1971, fez me recordar dias inesquecíveis passados no comando do nosso batalhão. Funciona para mim como um bálsamo reconfortante. Em Dezembro de 1971 verifiquei o valor dos sentimentos humanos.
Tinha-me deslocado em serviço ao comando operacional da Cabora Bassa. Ali recebi dada coluna sementeira escoltada pela companhia da Estima, duas caixas de bacalhau (lombada de sete centímetros) que o Pai do Alferes Teixeira (havia grande patriotismo) enviou para a ceia de Natal.
Nessa mesma coluna regressavam do hospital de Tete todos os militares que ali se encontravam com baixa e queriam passar o Natal juntos aos seus camaradas. Com a altitude da Estima o avião que nos transportou para Chipera não poderia descolar com tamanho peso. O piloto do Airlander, compreendendo a situação, avaliou meticulosamente o peso e consegui levantar voo com todos os apitos sonoros a contrariar. Com estes atrasos todos, aterrarias na Chipera já com noite escura, mas a experiência do então capitão Rodrigues, que tinha sempre preparadas as latas de cerveja com mechas e gasóleo, fez com que a aterragem parecesse que estávamos no Figo Maduro.


No dia seguinte, vinte e quatro, montamos, na parada principal, mesas em U para todos participarem na ceia de Natal. 
Das autoridades administrativas (administrador de posto e seu adjunto) todos se encontravam ausentes, pelo que, à minha direita, se sentou o interprete (Chico) que “carregado” de “Pombi” mal provou o bacalhau. Estava só, já que o então major Vicente se encontrava de baixa por ferimentos em combate. A segurança teria de existir e foi destacada uma secção reforçada para os morros adjacentes ao aquartelamento, já que em 24 de Setembro do mesmo ano havíamos sido atacados com fogo de morteiros, canhões sem recuo e metralhadoras pesadas sem que houvesse qualquer ferimento. Recordo que o acto sanitário para a secção destacada (Furriel Espirito Santo) foi voluntariamente exercido á pessoa do Furriel Karin (na altura autoridade máxima sanitária). 
Além das batatas com bacalhau e couves (das rotas adjacentes ao Ribeiro de Mefidisi (habilmente cultivadas pelas populações nativas). 
As “iguarias” foram preparadas pelos nossos cozinheiros (que foram estagiários de instrução de aperfeiçoamento do Hotel Alvor).
Já agora, recordo também o Natal de 1972, passado em Mocuba, na Zambézia, nessa altura com um serviço espectacular de bolos e assados, trazidos pelas senhoras daquela cidade. Não esqueço que os administradores de Mocuba Sisal sendo cidadãos suíços também nos enviaram as suas iguarias.
Recordo que o Alferes Santos, que foi decepado de seu pé com uma mina, compareceu com o seu Pai a todos os nossos desembarques no aeroporto Figo Maduro.
Este calor humano, que se verificou, foi uma compensação para a ausência dos nossos entes-queridos.
Feliz Natal e um grande abraço.

António Figueiredo ex comandante do BCaç 3843

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