quinta-feira, 17 de maio de 2012

Imagens e Vídeo do 20º Encontro do BCaç 3843

Breve apresentação de algumas fotografias, tiradas durante o 20º Encontro do BCaç 3843 por Karim Ahmad e video da autoria de Manual Vaz (1º Sargento Vaz) com edição e montagem de Victor Pessa.




sábado, 12 de maio de 2012

ENCONTRO DE 2012

Realizou-se hoje dia 12 de Maio de 2012, o já tradicional Encontro de Ex-militares do nosso Batalhão de Caçadores 3843, com a particularidade da presença de elementos das companhias de caçadores 3355, 3356 e 3357.
Para os que não puderam estar presentes pelos mais diversos motivos aqui ficam algumas fotografias, na esperança que para o ano possamos estar novamente juntos a comemorar mais uma edição deste evento.
Saliente este ano a presença do nosso "Capitão" Rodrigues (hoje Coronel), do "Alferes" Candeias (médico), do "1º Sargento" Careto, hoje Capitão, do Nuno Coelho "condutor", do Luís Cunha e de muitos outros elementos das outras companhias que por motivos óbvios não sei o nome.
Este ano, foi depositada uma placa alusiva ao Batalhão no espaço destinado para o efeito, no RI 15, onde conjuntamente com as restantes placas de todos os Batalhões e Companhias que saíram deste regimento ali figuram.
Pela minha parte espero voltar para o próximo encontro e faço votos para que alguns de vós também estejam presentes, pois a grande família do BCaç 3843, precisa de todos, porque somente todos podemos fazer "MAIS E MELHOR".
Momento de continência em homenagem aos mortos do Ultramar. Pode-se ver ao fundo os nossos 2 comandantes em posição de sentido.
Coroa de flores oferecida pelo BCaç 3843 e agradecimento, emocionado, do Comandante ao nosso camarada Bras Lopes pela oferta deste.
Grupo de amigos, Tavares, Ribeiro, Pessa e "Capitão" Rodrigues.
As "namoradas" esperavam à sombra pelos bravos ex-militares, que se iam despedindo.
Quase dava para formar uma companhia. 4 Furrieis, 1 Sargento e 1 Capitão.
Pessa, Horta, "Capitão" Rodrigues, "1º Sarg" Vaz, Miguel e Tavares.
Velhos amigos, que se encontram ao fim de 40 anos. No meio está o Nuno Coelho.



sábado, 5 de maio de 2012

CANCIONEIRO DO NIASSA

O CANCIONEIRO DO NIASSA é uma colectânea de FADOS, que tem como assunto central a vida dos militares em serviço no NORTE DE MOÇAMBIQUE durante os últimos anos da década de sessenta.

Os autores das letras, que as adaptaram a melodias em voga nessa época, são desconhecidos, apenas se sabendo que pertenciam aos diversos ramos das FORÇAS ARMADAS, nelas ocupando variadas funções e postos.

Esta diversidade de origens, faz contudo realçar uma única temática, facilmente detectada, através de todas as letras. E é nessa unidade que reside, precisamente, o maior interesse folclórico e documental do CANCIONEIRO, como testemunho de uma época e como tradução do sentido daqueles que a viveram.


O Fado do Desertor é uma das peças mais bem conseguidas do Cancioneiro do Niassa (colectânea de canções de luta produzida em Metangula, em 1969.

O autor do "Desertor" é o Mário Orlando de Matos Bernardo, na altura médico da companhia de fuzileiros e, hoje, Professor Catedrático de Medicina, jubilado.

Pariu os versos durante uma crise de paludismo, na cama, e ditou-os para serem escritos.
Em síntese, a história é esta.


Do CANCIONEIRO, o "Fado do Desertor", é um fado que pela sua letra poderá ser considerado impróprio para salão! Só interessando a quem tenha algum sentido de humor!
(dados extraídos de, "Servir Portugal" e "Batalhão 2908".

FADO DO DESERTOR

Estava eu na minha terra
Disseram-me vais para a guerra
Bis

Toma lá uma espingarda
E um bilhete p'ro navio
E uma medalha num fio
E uma velha, velha farda
Bis

Após dias de caminho
Estava já muito magrinho

Esfomeado como um rato
Olhei bem só vi palmeiras
Macacos e bananeiras
Entendi, estava no mato
Bis

O furriel e o sargento
Chamavam-me fedorento

Porque me queria lavar
E o alferes e o capitão
Diziam que era calão
Se me viam descansar
Bis

Estava tão farto da guerra
E ao lembrar a minha terra

Fui um dia passear
Numa palhota sozinha
Estava uma preta girinha
Que ao ver-me pôs-se a chorar
Bis

E fiquei com tanta pena
Dessa mocinha morena
Bis

Que fugimos para o mato
Somos um casal feliz
E já temos um petiz

Bis

Que por sinal é mulato

sexta-feira, 27 de abril de 2012

AEROGRAMAS-Guerra Colonial 1961-1974

Aerogramas Militares
O Movimento Nacional Feminino e o Serviço Postal Militar
(um trabalho de Eduardo Barreiros e Luís Barreiros do Clube Filatélico de Portugal Ver aqui.)

O sequestro do navio Santa Maria, à época o mais importante da Marinha Mercante Portuguesa, ocorrido em 22 de Janeiro de 1961, o assalto em Luanda à Casa de Reclusão e à Esquadra da Polícia de Segurança Pública em 4 de Fevereiro e, posteriormente o início das atrocidades cometidas pelos guerrilheiros da União das Populações de Angola - UPA  contra as populações do Norte de Angola, em 15 de Março de 1961, em que foram mortos 800 portugueses brancos de uma população de 10 000, fizeram despertar em Portugal um movimento patriótico de solidariedade entre um grupo de mulheres.
Cais de Alcântara. O regresso do paquete Santa Maria em 16-2-1961.

Este Movimento de mulheres propunha prestar apoio aos desalojados e repatriados de Angola, às famílias e aos militares expedicionários que entretanto eram mobilizados para o Ultramar, em defesa do território nacional.
Nascia assim, em 28 de Abril de 1961, o Movimento Nacional Feminino (MNF) que conforme constava nos seus Estatutos era independente do estado e não continha cariz político.
Primeiro dia de venda dos aerogramas militares. Diário Popular de 2-8-1961.

No artigo 1º dos Estatutos do M N F, estão definidos os seus objectivos: “O Movimento Nacional Feminino é uma Associação com personalidade jurídica, sem carácter político e independente do Estado, que se destina a congregar todas as mulheres portuguesas interessadas em prestar auxílio moral e material aos que lutam pela integridade do Território Pátrio”.
Esta organização, chegou a congregar cerca de 82 000 mulheres, distribuídas pelas suas estruturas em Portugal e nas Províncias Ultramarinas. O MNF foi responsável pela edição de um jornal mensal chamado “Guerrilha”, uma revista intitulada “Presença” e uma emissão de rádio com o título “Espaço”.
Cecília Supico Pinto foi presidente do Movimento Nacional Feminino durante os 13 anos da sua existência.
Fig. 3-1961. O primeiro aerograma encomendado pelo Movimento Nacional Feminino à Tipografia Labor.

O MNF organizou, logo desde Dezembro de 1961, o “Natal do Soldado”, espectáculos para os soldados, esteve presente nos cais de embarque a prestar apoio às tropas e fez deslocar com frequência, as suas dirigentes em visita, aos militares em combate. Desenvolveu um serviço de madrinhas de guerra, que em 1965 contava já com 24 000 inscrições.
 
O MNF, para além destas actividades, mantinha um serviço bem organizado de distribuição de diversas lembranças aos militares expedicionários.
Cerca de um mês e meio após a formação do MNF, começaram as iniciativas desta instituição para a concessão de isenção de franquia postal, para os militares expedicionários e suas famílias, o que veio a ser concretizado com a publicação da Portaria 18 545, de 23 de Junho de 1961(Fig.4) assinada pelo Ministro das Comunicações e do Ultramar.
Notícia do Diário da Manhã de 22-6-1961.

Estabelecia a referida portaria, que ficavam isentos temporariamente do pagamento de porte e sobretaxa aérea, as cartas e bilhetes postais com correspondência de índole familiar, que fossem expedidos para qualquer ponto do território português, pelo pessoal dos três ramos das forças armadas ou das corporações militarizadas destacadas nas Províncias Ultramarinas, bem como, os expedidos do continente e ilhas adjacentes para aquele pessoal, pelos seus familiares e madrinhas de guerra.
O MNF, deu assim corpo a uma das suas mais importantes e conhecidas iniciativas, a emissão dos aerogramas militares.
Com o acordo entre a Administração Geral dos Correios, Telégrafos e Telefones (CTT), Correios, Telégrafos e Telefones do Ultramar (CTTU) e o Secretariado Geral da Defesa Nacional, foi por este distribuída a circular número 1956 / B, de 4 de Agosto de 1961, que regulamentava o uso dos aerogramas.
Seriam impressos carta, constituídos por uma folha de papel, com o peso máximo de três gramas, dobrável em duas ou quatro partes, de modo que as dimensões resultantes da dobragem dos aerogramas não excedessem os limites máximos de 150 x 105 mm e mínimo de 100 x 70 mm.
Na frente, reservada às indicações do destinatário, seriam impressas as seguintes inscrições:
- no ângulo superior direito doaerograma inscrição “CORREIO AÉREO / ISENTO DE PORTE E DE / SOBRETAXA AÉREA / Portaria nº. 18 545 de 23-6-61”
- em baixo, “É PROIBIDO INCLUIR QUALQUER OBJECTO OU DOCUMENTO O DEPÓSITO NO CORREIO É FEITO EM QUALQUER ESTAÇÃO DOS CTT ”.
No verso, seriam impressas indicações referentes ao remetente. Neste espaço era obrigatório indicar, a seguir ao nome do militar, o seu posto e número.
O primeiro aerograma, (Fig.3) foi impresso na Tipografia Labor, em Lisboa. A encomenda foi efectuada a 25-7-1961, e entregue entre 2 e 8 de Agosto do mesmo ano. Foi impresso em papel azul de 50 g/m2, foi fornecido pela Fábrica da Abelheira-Tojal com filigrana em letras abertas, em duas linhas: GRAHAMS BOND / REGISTERED 147 x 42 mm. Dimensões do aerograma 280 x 172 a 174,5 mm. Peso 2,5 a 3,0 gr. Impressão a preto. Linhas da direcção e de dobragem formadas por tracejado fino. Sem indicação do nome da tipografia e sem data. Apresenta um erro de ortografia em que a palavra PROÍBIDO foi escrita com acento agudo no primeiro I. Na Tipografia Labor, de José Nogueira Durão, situada na Rua do Barão, nº 31 foram impressos, a partir de 25 de Julho de 1961, um total de 200 000 aerogramas entregues entre 2 e 8 de Agosto do mesmo ano.
No movimento de correspondência do Ultramar para a Metrópole, os aerogramas eram entregues nos respectivos Comandos ou em mão em qualquer estação dos CTTU e no sentido inverso eram entregues nos CTT. Nos dois sentidos, o transporte era sempre efectuado por via aérea.
Foi também prevista a emissão de bilhetes postais, que teriam as mesmas dimensões que a frente dos aerogramas sendo esta dividida ao meio. A metade da direita seria reservada às indicações do destinatário e a metade esquerda reservada ao remetente. Estes bilhetes postais, apesar de programada a sua emissão, nunca chegaram a ser emitidos.
Ao MNF foi concedida a responsabilidade da impressão e distribuição dos aerogramas militares - inteiros postais isentos de franquia.
Com o objectivo de satisfazer rapidamente, as necessidades dos militares expedicionários em papel de escrita isento de franquia, o MNF encomendou o fabrico de aerogramas a duas tipografias de Lisboa.
Na Tipografia Orbis - Edições Ilustradas Lda. situada na rua da Praia do Bom Sucesso nº. 21, foram impressos dois milhões de exemplares, a partir de 28 de Julho.
O aerograma encomendado pelo Movimento Nacional Feminino à Tipografia ORBIS- Edições Ilustradas. Lda. Impresso de Agosto a Novembro de 1961.

Para fazer face às despesas resultantes da emissão dos aerogramas, teve o MNF, a contribuição inicial de várias entidades patrocinadoras das quais se destacam: Banco de Angola, Estaleiros Navais de Viana do Castelo, José Manuel Bordalo, A Lusitânia, Companhia Portuguesa de Pesca, Manuel Rodrigues Lago, Sacor, Cidla, Companhia Colonial de Navegação, Sociedade Central de Cervejas, Banco Borges e Irmão e Sociedade Concessionária da Doca de Pesca. Algumas destas firmas, tiveram frases publicitárias impressas, logo nas primeiras emissões de aerogramas editados pela Orbis. Esta publicidade, repetiu-se nos aerogramas editados em Agosto de 1962, Janeiro de 1964, Setembro de 1965 e Julho de 1966.





  

Os primeiros aerogramas editados pelo MNF, foram impressos em papel azul pálido. A partir de Março de 1962, passaram também a ser impressos aerogramas em papel amarelo, e que eram destinados ao uso exclusivo no sentido Ultramar-Metrópole, enquanto que, os aerogramas impressos em papel azul, deveriam ser utilizados no sentido inverso, Metrópole- Ultramar.
No entanto, devido à carência de aerogramas nem sempre esta regra era cumprida.
 
Dezembro de 1961. Aerograma com impressão de Natal, encomendado pelo Movimento
Nacional Feminino à Tipografia ORBIS.

Apesar do grande esforço feito pelo MNF, para satisfazer as solicitações sempre crescentes do número de aerogramas, nem sempre este objectivo foi conseguido.
No Continente, a aquisição dos aerogramas era feita ao preço unitário de 20 centavos. Os aerogramas podiam ser vendidos ao público na sede do Movimento Nacional Feminino, Rua Presidente Arriaga nº 6, 1º em Lisboa, nas Delegações Distritais e Concelhias do MNF, nas Juntas de Freguesia, no Serviço Nacional de Informação (S N I), nos Postos de Turismo do aeroporto e das estações marítimas de Alcântara e da Rocha do Conde de Óbidos e em todas as Juntas e Comissões Municipais do Turismo do País e também estavam disponíveis em muitos estabelecimentos comerciais que os vendiam, sem aumento de preço, sendo a contrapartida pela venda, saldada em aerogramas. Sabemos que, em alguns bairros mais carenciados, os aerogramas chegaram a ser distribuídos gratuitamente.
Aerograma enviado pela Comissão Concelhia de Lisboa do Movimento Nacional Feminino em 1973, para soldado em Moçambique, com mensagem de felicitações pelo seu aniversário.

A primeira entrega de aerogramas ao MNF, teve lugar no dia 2 de Agosto de 1961 e, no dia 8, seguiram 8000 impressos para as suas Delegações Distritais, entretanto já em funcionamento. Nesse mesmo dia, e por via aérea utilizando os Transportes Aéreos Militares - TAM, seguiram para Angola os primeiros 101 000 aerogramas.
 
Aerograma editado pelo MNF, com impressão de Natal feita em unidade militar.

A segunda encomenda de aerogramas foi feita à Tipografia, Orbis – Edições Ilustradas, Lda situada na Rua da Praia do Bom Sucesso Nº 21, Lisboa. Papel azul de 50 gr/m2, da fábrica da Abelheira com impressão a preto. Tinha dimensões semelhantes aos anteriores, e foram impressos em “off-set”. As linhas da direcção e de dobragem são formadas por um traço contínuo. O papel apresenta filigrana GRAHAMS BOND / REGISTERED. O peso é de 2,6 a 3,1 gr. Ao contrário do primeiro aerograma da Labor, a inscrição CORREIO AÉREO / ISENTO DE PORTE E DE / SOBRETAXA AÉREA / PORTARIA Nº 18545, DE 23 DE JUNHO DE 1961, está envolvida por um rectângulo. A indicação do nome da tipografia encontra-se na aba direita ORBIS-EDIÇÕES ILUSTRADAS, LDA. – 8-61.
Aerograma editado  pelo Comando Militar de São Tomé e Príncipe.

Os Comandos Chefes e Comandos Militares no Ultramar, estavam autorizados também, a mandar imprimir e distribuir aerogramas, com as mesmas características dos editados pelo MNF, se disso tivessem necessidade, o que veio a acontecer logo em Agosto de 1961 em S. Tomé e Príncipe, no final de 1961 no Estado da Índia, em 1963 em Timor e  por várias vezes em Angola e Moçambique.
Aerograma editado pelo Comando Militar do Estado da Índia.

Também, a Comissão de Assistência ao Soldado Açoreano - C.A.S.A. mandou imprimir os seus próprios aerogramas, com modelo semelhante aos do MNF, e que distribuía aos soldados Açoreanos em serviço no ultramar.
O MNF, apesar de ter sempre reclamado para si a edição, em exclusivo, dos aerogramas militares, não conseguiu impedir que ao longo dos anos, tivesse havido emissões de aerogramas sem o seu conhecimento ou autorização.
A Delegação Distrital de Braga do MNF, para fazer face às inúmeras solicitações de aerogramas, e perante a dificuldade em os receber de Lisboa, em quantidade satisfatória, tomou através da sua Presidente, Rosa Santos da Cunha a iniciativa de os mandar imprimir localmente.
 
Aerograma editado pelo Comando Militar de Timor.

Esta atitude bem intencionada da Presidente do MNF de Braga, foi mal aceite em Lisboa e mereceu uma severa repreensão por parte da dirigente nacional, que para o efeito se deslocou a essa cidade.
Durante o ano de 1966 e sobretudo no de 1968, foram impressos na Tipografia Silva Pereira Lda, Rua D Pedro V em Braga, várias edições de aerogramas, facilmente identificáveis pela impressão grosseira e pelos múltiplos erros ortográficos que apresentam.
Aerograma editado pela Região Militar de Angola.

Algumas destas emissões impressas em Braga, receberam no seu interior, a impressão de mensagens alusivas à Páscoa e Natal, destinadas ao soldado em serviço no Ultramar. Na frente do aerograma era aposto um carimbo linear a vermelho com a inscrição “ MENSAGEM PARA AS FORÇAS ARMADAS”.
Em Angola, dado o maior número de forças militares, cerca de 22 000 homens em Agosto de 1961, os aerogramas foram distribuídos separadamente para os comandos da 3ª Região Militar, 2ª Região Aérea, Comando Naval e Corporações Militarizadas. O MNF, começou a receber ofícios dos diferentes Comandos Militares, solicitando o fornecimento de aerogramas de acordo com a previsão mensal, 12 por mês e por homem, necessários para os seus efectivos.
No dia 19 de Setembro de 1961, pedia o Comando da 3º Região Militar de Luanda, o envio de 250 000 aerogramas para os soldados que ali prestavam serviço. Este pedido, foi satisfeito pelo MNF, logo no dia seguinte, com o embarque dos aerogramas no navio Vera Cruz. A coordenação da distribuição dos aerogramas, para uso pelas unidades militares foi atribuição durante alguns anos, da Secção de Moral e Bem - Estar da 1ª Repartição do Quartel General.  Mais tarde, estas funções passaram para a Chefia do SPM nas diferentes Províncias Ultramarinas. A confirmação desta atribuição, foi objecto de despacho conjunto, do Ministro da Defesa Nacional e do Exército, em 30 de Setembro de 1972.
Aerograma editado pela Comissão de Assistência ao Soldado Açoreano.

No endereço dos aerogramas e cartas, escritas para o Ultramar, não deveria constar em caso algum, a referência à Província Ultramarina de destino, à localidade onde o militar se encontrava ou à unidade a que pertencia. Além do nome, posto e número do destinatário, somente se poderia indicar no endereço, o número do Indicativo Postal Militar respectivo, mais vulgarmente conhecido por número do SPM.
Aerograma editado pela Comissão Concelhia do Movimento Nacional Feminino de Braga,
Com mensagem de Páscoa.

O não cumprimento destas normas, obrigava à devolução ao remetente, de todo o tipo de correspondência.
Assim, os militares, antes de embarcarem para o ultramar, deviam informar os seus correspondentes acerca da forma como a correspondência devia ser endereçada. O seu Indicativo Postal Militar, ser-lhes-ia fornecido, pela unidade mobilizadora antes do embarque.
A adesão dos militares e suas famílias a estes procedimentos foi sendo feita progressivamente durante os primeiros anos.
No acto da aceitação do aerograma, deveria ser-lhe sempre aposta na frente, a marca de dia da estação de recepção. Esta norma, nem sempre foi cumprida em virtude do elevado número de aerogramas em circulação.
Como já foi referido, os aerogramas de cor azul, só podiam ser admitidos no sentido Metrópole / Ultramar, caso contrário deveriam ser devolvidos ao remetente, conforme despacho do Ministro do Exército e da Defesa Nacional, de 1 de Junho de 1971.
“ Os aerogramas amarelos não são admitidos no sentido Metrópole-Ultramar ”.

Relativamente à expedição dos aerogramas para o Ultramar, todas as estações do País tinham rigorosas instruções para os receber e os enviar, diariamente para Lisboa, para a Estação Militar Principal EPM-9 onde eram classificados segundo os Indicativos Postais de cada Província, colocados em malas de correio e transportadas para o Ultramar, pelos aviões da Força Aérea e aviões das linhas comerciais.
Os CTT, não deveriam fazer qualquer distinção, entre a correspondência selada e os aerogramas isentos de franquia.
A expedição dos aerogramas do Ultramar para a Metrópole, funcionava de forma inversa, isto é, os militares entregavam a correspondência nos Comandos ou em qualquer estação dos CTTU que, por seu turno a enviavam pelos aviões da Força Aérea e aviões das linhas comerciais, para Lisboa cabendo depois aos CTT a sua distribuição pelos destinatários, dos vários pontos do Pais.
Os aerogramas, de cor azul ou amarela, consoante se destinavam ao Ultramar ou à Metrópole respectivamente, que não apresentassem o número do Indicativo Postal ou indicação de se tratar de correspondência de, ou para um militar, seriam devolvidos ao remetente.
Como já foi referido anteriormente, os aerogramas destinavam-se a ser utilizados pelos militares dos três ramos das Forças Armadas, Polícia de Segurança Pública, Guarda Nacional Republicana, (São Tomé e Príncipe) Organizações Para Militares como a Organização Provincial de Voluntários e Defesa Civil de Angola (OPVDCA) e Moçambique (OPVDCM), por suas famílias e madrinhas de guerra.
Os militares expedicionários nas Províncias Ultramarinas, para satisfazerem as necessidades de comunicação com a família, ultrapassavam frequentemente o número de aerogramas que lhe eram mensalmente distribuídos. Encontrámos casos, em que um militar chegava a escrever três aerogramas no mesmo dia.
Noutros casos, a carência destes isentos de franquia, obrigava os militares a usarem aerogramas, mesmo que estivesse ausente a impressão tipográfica habitual. Nestas condições, os autores possuem alguns aerogramas de cor azul e vários exemplares de cor amarela, de diferentes emissões, circulados em Angola. O exemplar que se apresenta, foi impresso na Tipografia Lito-Tipo, em Luanda, e apresenta no seu interior uma impressão de um sino com laço a preto, alusiva ao Natal e que se torna evidente na observação do aerograma. O utilizador, perante a ausência de impressão, escreveu pelo seu punho “Edição Exclusiva do Movimento Nacional Feminino”.
 
Aerograma circulado em Angola, em que está ausente toda a impressão tipográfica na sua frente.

Foi escrito por militar do Pelotão de Intendência nº. 3044 destacado em Nambuangongo, no Norte de Angola, para a Delegação do Movimento Nacional Feminino em Luanda.  Apresenta na frente a marca de dia do PMC-146, localizado em Santa Eulália.
Os aerogramas, circulavam também no interior e entre as diferentes Províncias Ultramarinas.
A isenção de franquia, estabelecida pela portaria 18 545 de 23 de Junho de 1961, para a correspondência entre os militares e suas famílias, era apenas aplicada no território nacional, estando interdita a utilização de aerogramas para o estrangeiro. No entanto, possuímos alguns exemplares enviados para Viena-Austria, por um militar pertencente à EPM-7, na Ilha do Sal.
Aerograma azul, enviado de Macau para Moçambique, com marca de dia de 26-5-1969 franquiado com selos totalizando 30 avos, por  provavelmente ter sido ultrapassada a dotação gratuita, atribuída a este militar.

Os aerogramas isentos de franquia destinavam-se a ser usados exclusivamente entre os militares e os que com eles se correspondiam. Caso contrário, seriam devolvidos ao remetente. Em relação aos aerogramas militares, não foi considerada a possibilidade de circularem como correio registado. Os exemplares registados que conhecemos, foram circulados de “favor” por filatelistas, mas à revelia dos regulamentos.
Em algumas estações dos CTT, os aerogramas, apesar de isentos de porte e de sobretaxa aérea, e por desconhecimento ou falta de informação dos funcionários, foram algumas vezes multados ou franquiados com a taxa normal de correio aéreo 
Os autores possuem um aerograma, circulado com um selo da taxa de 2$50, obliterado com a marca de dia do Funchal e com destino a Luanda.
Aerograma remetido do Funchal-Madeira em 11-8-1968, para Luanda. Foi considerado como correspondência não isenta, tendo sido franquiado com a taxa de correio aéreo.

Exemplo diferente é o de aerogramas militares expedidos de Macau para Lisboa, quando ultrapassassem a dotação gratuita atribuída a cada militar. Neste caso eram franquiados com a taxa de 30 avos. (Fig. 16). Também, os aerogramas circulados internamente em Angola não estavam dispensados do uso do selo do Povoamento. Possuímos aerogramas, em que foi aplicado o carimbo T de multa por falta do selo do “Povoamento”, como prova a indicação manuscrita “Pov.” 2$00, exactamente o dobro da taxa em falta.
Os autores possuem alguns exemplares, amarelos e azuis, circulados pela Estação Postal Militar 6 (EPM-6) em 1964, devendo a multa ter sido aplicada pela estação dos CTT de Luanda, pois nenhuma EPM em Angola, possuía este tipo de carimbo.
Aerograma devolvido ao remetente pelo destinatário ser desconhecido.

Os aerogramas, apesar de apresentarem uma inscrição, proibindo a inclusão de qualquer objecto ou documento, foram, durante os anos em que foram utilizados, o meio de transporte de vários objectos. Temos conhecimento que serviram para enviar selos de correio, fotografias e notas de banco e também folhas de papel de carta para aumentar a área a utilizar. Noutros casos, e com o mesmo objectivo, foram dobrados dois aerogramas de modo a parecerem um só, tendo circulado desta forma.
Aerograma circulado no interior de Angola e porteado, por falta de selo de Povoamento.

Alguns utilizadores de aerogramas, temendo que este tipo de correspondência, aparentemente frágil na preservação do sigilo do seu conteúdo e pensando que este correio poderia ser sujeito a censura, utilizavam métodos destinados a “reforçar” a sua segurança. Assim, com esse objectivo, encontrámos a assinatura do remetente sobre a pala do fecho, o encerramento das aberturas laterais com cola, com fita adesiva ou mesmo adesivo medicinal. Pensamos que, pelo elevado número de aerogramas que circulavam diariamente pelas estações postais militares, estes receios seriam completamente infundados.
Devido ao grande volume de aerogramas em circulação, poderia verificar-se o extravio de alguns e surgir qualquer atraso na sua entrega aos destinatários, sobretudo os que residiam em localidades de  mais difícil acesso.
Guiné 1966. Estação Postal Militar 8, em Bissau.

Logo desde o início da reocupação do Norte de Angola, se constatou a incapacidade dos Correios de Angola e das estruturas militares existentes em efectuarem de forma eficaz a distribuição de toda a correspondência acumulada e destinada aos militares em campanha, algures no interior da Província.
É neste contexto que era indispensável criar e pôr em funcionamento um serviço militar, que fizesse a recepção e distribuição da correspondência dos militares, mantendo por razões de segurança, o sigilo do local das forças em operações.
Surgia assim, o Serviço Postal Militar que em Angola iniciou a sua actividade em 21 de Julho de 1961.
Carta registada remetida pela Chefia do SPM Regional de Angola, para o Comandante da EPM-9, em Lisboa.

Com a extensão do conflito a outras áreas desta Província e com o aumento dos efectivos militares, houve necessidade de instalar uma rede de Estações Postais Militares e de Postos Militares de Correio.
Da mesma forma e com os mesmos objectivos, se procedeu à instalação do SPM na Guiné, Moçambique e nos restantes territórios ultramarinos.
Carta registada com marca de dia da EPM-8 de 20-5-1975,  remetida para Lisboa.

Os aerogramas militares, isentos de franquia, editados pelo Movimento Nacional Feminino tiveram grande êxito como forma de correspondência militar, rápida e económica, encaminhados pelo SPM e transportados, na sua maior parte pelos Transportes Aéreos Portugueses - TAP.
O Serviço Postal Militar (SPM) cumpriu, de forma exemplar, a missão de fazer chegar o correio aos militares em campanha durante a Guerra Colonial, de 1961 a 1974.

Bibliografia:
1.Barreiros, Eduardo e Luís - História do Serviço Postal Militar / History of Portuguese Military Postal Service. Aerogramas Militares - Catálogo. Guerra Colonial 1961 - 1974. Edição de Autor. Lisboa,  2004.
2.Barata, Paulo Rui - Aerogramas de Portugal. Edição Publifil. Lisboa, 1976.
3.Cadernos do Soldado IV - Serviço Postal Militar. Edição do Ministério do Exército. Estado-Maior do Exército, 1 ª Repartição. Lisboa, 1965.
4.Godinas, François - Catalogue Mondial des Entiers Aeropostaux. 5ª-Section. Edição do Autor. Bruxelles, Belgique, 1968.
5.Estatutos do Movimento Nacional Feminino.- Diário do Governo nº. 195, III série de 21 de Agosto de 1961.
6.Cecília Supico Pinto - O Ministro da Defesa  Nacional  no Movimento Nacional Feminino: 200 milhões de aerogramas. In Guerrilha. Lisboa. Movimento Nacional Feminino. XXV, 1970. Pág. 2.
7.Lamas, José da Cunha - Bilhetes - Cartas - ( Avião ) Isentos de Franquia emitidos pelo M N F, História e Descrição. In Catálogo da 3ª. Exposição Filatélica do Cuanza Sul. 1965.
8.Lamas, José da Cunha - Inteiros Postais de Portugal e Ilhas Adjacentes. Edição dos Serviços Culturais dos C.T.T.. Lisboa, 1969.
9.Lamas, José da Cunha; Marques, A.H. de Oliveira - Catálogo de Inteiros Postais Portugueses. 2 volumes. Edição Correios e Telecomunicações de Portugal. Lisboa. 1985.
10.Lamas, José da Cunha - Aerogramas de Serviço do Movimento Nacional Feminino ( isentos de franquia ). In Catálogo da XI Mostra Filatélica das Festas de Nossa Senhora do Monte. Sá da Bandeira, Angola. Agosto de 1973.

sexta-feira, 20 de abril de 2012

AEROGRAMA 2012

Já está no correio, uma das surpresas deste Encontro.
O Aerograma !

Aquele que todos nós enviávamos para casa, para as nossas namoradas, amigos e familiares. Que foi o elemento que nos ligou durante a nossa campanha militar em terras de Moçambique, aos que ficaram no Continente.
Recordo-me muito bem de quando estava em Chipera escrever um todos os dias. Nele relatava (como que se de um diário se tratasse) os acontecimentos do dia. Foi divertido e de certa forma salutar pois tinha a faculdade de nos manter sempre na expectativa de uma resposta breve e o mais importante... notícias da nossa  terra.
Esta ideia teve a particularidade de fazer renascer, sentimentos já esquecidos. No Blogue é feita referência aos Aerogramas (Ver aqui ).
A excelente ideia de introduzir esta variante na modalidade de participação do evento a todos os ex-militares parece que resultou num tremendo êxito.
Não esquecer que para que tal fosse possível, todo o trabalho de pesquisa do Magid Silva Karim, contacto com entidades diversas; Liga dos Combatentes, Associação dos Deficientes das Forças Armadas - secção gráfica, várias empresas gráficas e o Museu do Papel em Santa Maria da Feira , que ofereceu o Catálogo referente a uma Exposição, que fez sobre os Aerogramas. A localização pelo Magid Silva Karim do ex-militar Filipe Abreu do AB 6 ( Nova Freixo - Moçambique ), permitiu erguer e a viabilizar este projecto, sendo este ultimo o responsável por toda a concepção gráfica.
O design e a decisão de incluir as fotos ( fonte: Blogue Olhar o Passado) foram do Magid Silva Karim, quanto ao texto do convite 2012, foi um trabalho conjunto entre o Coronel Emidio Sousa Vicente e o Magid Silva Karim.

O Aerograma foi enviado a todos os ex-militares, bem como à Liga dos Combatentes, jornais locais e está a ser enviado a jornais de circulação nacional e a Cadeias de Televisão, para publicitação do evento.
Daqui envio os parabéns ao Magid Silva Karim, por todo o trabalho efectuado no lançamento dos Aerogramas, como Convite para o nosso Encontro de 2012.

NOTA: Entretanto informa-se que brevemente irá ser publicada neste espaço um post sobre a História e Origem dos Aerogramas, que inclui os Aerogramas " Temáticos "com Imagens Impressas, tais como: 1966 Angola = Aerograma e a apanha do café; 1970 Angola = Aerograma-Gabela Escolas; 1968 Angola = Aerograma - Palácio do Comércio e Edifício dos CTT em Benguela; 1962 Macau = Aerograma e Distribuidores de Correspondências; Aerograma - Palácio do Governo de Macau; Aerograma - Microscopistas do Serviço de Saúde, etc.

Alguns destes Aerogramas, estiveram na Exposição do Museu do Papel,
de Santa Maria da Feira.


quinta-feira, 19 de abril de 2012

LUIS CUNHA

Hoje tive a agradável surpresa do contacto de Luis Cunha, nosso companheiro de armas, que partilhou connosco também a sua vivência em terras de Moçambique.
Como não podia deixar de acontecer já o adicionei como membro do Grupo do BCAÇ3843, no Facebook, para que desta feita possa, quanto entender, contactar com os restantes membros.
Foram muitos os momentos de franca camaradagem que vivemos com o Luís Cunha.

Abraço a todos.

domingo, 15 de abril de 2012

DEIXAI TODA ESPERANÇA, Ó VÓS QUE ENTRAIS!

João Paulo Ramos, ex- Furriel Mil.º AP de Infantaria, 2.ª Companhia de Caçadores do Batalhão de Caçadores 4810/72, conta-nos a sua breve história em Cantina de Oliveira.
No sitio do http://ultramar.terraweb.biz podemos ver na integra a sua história, Moçambique - João Paulo Ramos, ex- Furriel Mil.º AP de Infantaria, da 2.ª Companhia do BCaç4810/72, que transcrevo aqui para vosso conhecimento, até porque o mesmo fala mais em baixo, da nossa companhia 3356, que lá esteve sediada.

"Alguém, sabiamente, plasmou numa tabuleta à entrada do quartel, letras brancas sobre fundo vermelho, as palavras do Canto III da Divina Comédia - a Porta do Inferno - e todos nós, mesmo os que não entendiam o significado daquelas palavras, intuíamos que não auguravam nada de bom. Sentíamos um arrepio ao ler aquela descrição/ premonição sobre a passagem por aquele Portal do Inferno. Era a entrada numa dimensão desconhecida, no reino da incerteza e da dor.


Por decoro e piedade não foi transcrito o verso final, absoluto, definitivo: “DEIXAI TODA ESPERANÇA, Ó VÓS QUE ENTRAIS!”

Cantina Oliveira, também conhecida por Cantina de Oliveira, ou Cantina do Oliveira, tinha aproximadamente as dimensões de um campo de futebol. Um rectângulo de uns 120 por 70 metros. Era cercada a toda a volta por uma paliçada feita em troncos de madeira com 1,70 m de altura por 1 m de espessura. Não fosse esta paliçada ter menor altura e poder-se-ia dizer que estávamos dentro dum forte daqueles que ainda hoje podemos ver nos filmes de índios e cowboys! O quartel, ligeiramente elevado, situava-se no centro de um planalto com vários kilómetros de diâmetro. Esta localização permitia ter uma boa visão em toda a volta e salvaguardava o seu interior de ser atingido por tiro tenso (metralha, RPG's e canhões sem recuo). Era apenas permeável ao tiro curvo (morteiro 82 e foguetes 122 mm).

O aquartelamento terá sido edificado sobra as ruínas de uma cantina cujo proprietário, de nome Oliveira, se finou às mãos da Frelimo.

Ao longo do lado norte ficava a picada que, vinda do Bene, passava sucessivamente pelos rios Luía e Capoche. Com Cangombe pelo meio, chegava a Cantina Oliveira oitenta e tal km depois. Daqui seguia para o Fingoé. Para nossa sorte o troço entre o rio Capoche e Cantina Oliveira já estava desactivado mesmo antes da chegada da nossa companhia. A ponte sobre aquele rio tinha sido destruída. Este itinerário só foi reaberto em 1975. Constou naqueles tempos que estava de tal maneira sobre-minado, que fez, ainda, largos estragos entre os militares e civis que o foram reabrir.

Contígua ao quartel ficava a pista de aviação, paralela à picada para Vila Vasco da Gama, local onde estava destacado um grupo de combate da companhia. Esta picada para o destacamento estava interrompida na passagem do rio Mucumbuzi, pelo que também se encontrava desactivada na sua totalidade.

Aquando da recepção das instalações do quartel das mãos da companhia ali sedeada até então (CCaç 3356) foi constatada a necessidade de melhorar as condições de alojamento dos militares a nível da comodidade e da segurança. Uma das grandes preocupações do comandante da companhia, capitão miliciano Lobo Pimentel, foi, em geral, reforçar as instalações do quartel em termos de segurança passiva e activa, pelo que todo aquele dispositivo foi reformulado.  

Assim, circundando a paliçada passaram a estar duas redes de arame farpado. Estes aramados eram duplos, situando-se o interior a uma distância de uns 30 m e o exterior a aproximadamente 50 m. Num raio de 150 metros toda a zona estava capinada.

Em cada canto do rectângulo que constituía o quartel, bem como ao meio dos lados maiores, existiam abrigos para sentinelas, estando dois deles, nordeste e sudoeste, a funcionar permanentemente para esse efeito. Cada um dos seis postos de sentinela estava dotado de uma metralhadora de fita, HK-21 ou MG-42. Foi requisitado mais um morteiro 81, ficando a defesa à distância a ser feita por dois morteiros 81 e um 60 mm. 

Dois dos abrigos, situados em locais diametralmente opostos, eram torreões que foram construídos em cimento armado com uma espessura de 50 cm.

Ainda hoje, à distância de 37 anos, penso que transformámos aquele aquartelamento em algo de verdadeiramente inexpugnável. Só com meios aéreos seria possível desalojar as nossas tropas do local. Foram construídos novos e mais funcionais abrigos, pelo que a partir de meados de 1973,  toda a guarnição dormia em abrigos com um mínimo de comodidade, muito seguros e particularmente aptos para a defesa próxima.

Provavelmente sabedora das condições de defesa e de inexpugnabilidade do aquartelamento, a Frelimo referia-se a este local como sendo o Forte de Cantina Oliveira. Valeria a pena flagelar o aquartelamento só para manter alguma pressão psicológica? Na realidade não valeria o esforço e o dispêndio de munições ligeiras e pesadas! Muitas outras unidades e aldeamentos tinham bem piores condições de defesa, pelo que, do ponto de vista do atacante, o esforço de um ataque aos locais onde outras unidades estavam instaladas seria certamente mais rentável. Durante a comissão de 23 meses no local, 19 dos quais ainda durante o período de guerra e, ao invés do que aconteceu durante o período anterior à nossa chegada ao local, período esse em que o quartel foi várias vezes severamente flagelado, nunca aquelas instalações foram alvo de qualquer ataque.

Não é despiciendo o facto de a Frelimo, cuja actuação no distrito de Tete começou no primeiro terço de 1968, ter deslocado o seu esforço de guerra em direcção ao Sul, particularmente a partir de finais de 1972. O seu grande objectivo era a barragem de Cabora Bassa e a sua própria progressão para Sul.  Esta opção estratégica e táctica poupou-nos enormes dissabores.

Em combate apenas acrescentámos uma baixa mortal (e poucos feridos ligeiros) às muitas que os camaradas das valorosas companhias que nos antecederam, CArt 2452, CCav 2653 e CCaç 3356, tiveram por aquelas bandas.

Não se confirmaram em relação à nossa companhia os prognósticos anunciados no pequeno placard colocado à entrada do quartel. Não foi nada bom, mas também não foi o inferno anunciado e pelo qual outros passaram naquele e noutros locais. Fruto do acaso, da conjuntura e do comando inteligente, equilibrado e eficiente da companhia, chegámos ao final da comissão com um número reduzido de baixas, se comparado com o que se observou nas unidades militares que por ali estacionaram e pelas situadas ao nosso redor.
João Paulo Ramos, ex- Furriel Mil.