sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Um dia atrás do outro...

Um dia bastante esperado era o dia do pagamento. Nesta foto podemos ver o nosso 1º Sargento Careto (hoje Capitão), contando as notas uma por uma, para que não faltasse nada. A foto seguinte mostra o autor no seu local de trabalho, tendo como fundo o mapa da Zona Operacional de Tete (ZOT).

Uma das minhas obrigações era elaborar o relatório circunstanciado da nossa actividade e efectuar a sua distribuição pelas diversas unidades incluindo o Q.G. Realizava o trabalho na maior paz e deixava tudo pronto para no outro dia ser levado pelo avião que iria transportar o correio. Como sempre gostei de trabalhar à noite, grande parte desse trabalho era feito nesse período. Assim de manhã podia ficar mais um pouco na cama. Não raras vezes era chamado pelo nosso Comandante ao gabinete dele, porque o Alferes Miranda pensava que eu não tinha feito nada e que andava "baldado". Acho que o Alferes Miranda não aprendeu nada comigo, pois em Mocuba continuou a repetir as mesmas acções, saindo-se sempre mal. Quem não se lembra do "O ZAMBEZE" jornal de Informação, distribuido pelo Batalhão? Pois é grande parte da sua realização passava pelas minhas mãos. Claro que tinha a colaboração de todos quantos participavam com artigos que naturalmente eram publicados sempre com a supervisão do nosso Capelão Padre Gonçalves.

No local de trabalho

Por vezes era necessário proceder ao enchimento dos variados depósitos de água que abasteciam os balneários, do aquartelamento. Nesta foto podemos ver dois camaradas a efectuar essa operação. Na foto seguinte, o aspecto do meu quarto que compartilhava com o Zé Simões e o Artur Duro.

A hora das refeições eram sempre um espectáculo de bom comportamento. Ninguém passava à frente e lá iam eles todos aprumados para mais uma barrigada.


Aqui com alguma criançada, a pequena Maria e irmão. Na foto ao lado as lavadeiras também quiseram tirar uma para mais tarde recordar.

Uma familia tradicional junto da sua habitação. Eu e o Sardinha. Também se observa o Miguel que estava descansando depois de um dia de trabalho bastante árduo!

Eram todos da zona das Caldas da Rainha.

Ronda da PM em Chipera. Nesta foto podemos ver o Castro do SPM, Tony, António Luis Sousa Pinto (falecido em Angola quando do abate de um avião civil pela UNITA) o Zé Manel e o Palma.
(Foto enviada pelo Palma)

Este grupo dedicava-se à arte de bem cozinhar. Podemos ver o Furriel Vago-Mestre Falcato Simões, o Antunes e demais camaradas.
(Foto enviada pelo Luis Antunes -cozinheiro)

O Luis Antunes pergunta se alguém se lembra desta grande caçada?
Naquele dia tiveram carne de 1ª para mais de uma semana. Na foto ao lado a tradicional matança do porco em Chipera.



...e a trabalheira que foi juntar aquelas pedras todas? No fim até ficou muito bem.

O dia terminava quase sempre com um por-do-sol maravilhoso. Mesmo que tivesse chovido.
Esta sequência de 3 fotos demorou 1 hora a ser realizada.

Uns Chegam, outros Partem.
No dia 12 de Agosto chegou a Chipera a CCaç 4241, que veio render a CCaç 2758, que acabara a comissão, primeiro em Cabo Delgado e depois em Chipera. Ao sr Comandante, oficiais, sargentos e praças da CCça. 2758 "O ZAMBEZE" agradece todo o esforço, sacrifício, abnegação e coragem que demonstraram na luta oelo terrorismo, bem como a amizade e camaradagem que sempre nos consagraram. É de vincar bem esse ambiente de humanidade e camaradagem que reinava entre nós. A demonstrá-lo está bem patente a despedida, que manivestada no beberete que a CCS oferecera à 2758 e o que esta ofereceu à CCS, quer a despedida própriamente dita, que se dera às 14 horas do dia 18 de Agosto. Basta dizer que se viam muitas lágrimas no rosto dos que ficavam e dos que partiam.
Os camaradas que ficam auguram a todos os que partem um óptimo futuro na vida civil que vão retomar, cheio de felicidades e venturas.
À CCaç 4241 "O ZAMBEZE" recebe de braços abertos, certo de que não há-de desmerecer os seus antecessores. Ao sr Comandante, demais oficiais, sargentos e praças, oferecemos os nossos préstimos, na certeza de que todos unidos algo de positivo e útil ficará a provar aos nossos vindouros o valor e a audácia do sangue Português.
(texto extraído do jornal "O ZAMBEZE" edição nº 5)


As Minas...

Um dos maiores flagelos a que estávamos sujeitos, AS MINAS. Recordo que quando fomos para Chipera não havia detectores, o único utensílio que se usava eram as "picas" como toda a gente sabe. Quando era detectada alguma anomalia no terreno lá ia o especialista em minas. Aqui vemos o Botas da CCaç 2758 a escavar com uma faca de mato o terreno onde supostamente estará uma mina.


Para surpresa eram duas lado a lado. Se tivessem sido activadas o estrago seria medonho.


Infelizmente por vezes isso acontecia. Este Unimog é a prova disso.



Enquanto a coluna esperava pacientemente, que a mina fosse desactivada, tiráva-se uma fotografida para mais tarde recordar e mostrar aos "checas", como era. Logo de seguida fazia-se explodir o local, não fosse estar armadilhada e causar mais estragos.




Homens corajosos! O Jesus, grande amigo de Peniche e eu claro.

Esta foi enviada pelo Rui Grenha. Trata-se da desactivação de uma mina pelo seu rebentamento.

Mensagens dos visitantes

Estimado amigo,
Com certeza que os teus camaradas radiotelegrafistas se lembram do TANGO, que era o meu pseudónimo na rede da ZOT e da minha companhia (C.CAÇ.4241), que convosco convivemos na Chipera.
Se alguém me quiser contactar mencione no email a palavra Chipera, para que eu não confunda com SPAM.
Um abraço,
Manuel Tomaz (tangofolk@gmail.com)
Manuel Tomaz a 28 de Setembro de 2010 às 13:01
Alô camaradas.
Vi no sítio vosso encontro de confraternização. Sou também ex combatente. Estive em Cabo Delgado de 72 a 74.Já por diversas vezes lá fui com vários camaradas para visitarem os locais onde estiveram. Minha companhia era a 3559 do Batalhão 3888. Caso alguns de vós estiver interessado em lá voltar entre em contacto para: José_antonio_braga@hotmmail.com  ou josebraga06@sapo.pt ou pelo telemóvel 914873744.
ATÉ LÁ, MELHORES CUMPRIMENTOS.

É com surpresa que vejo espelhado o esforço de tantos para manter viva a memória, já que mais não seja, para honrar todos quantos deram generosamente as suas vidas e se entregaram ao sacrifício das suas juvenudes ultrajadas por um regime comandado por maníacos. Saúdo quantos aqui deixaram os seus contributos para que o nosso sacrifício não caia no olvido e que um dia possamos receber a gratidão que a pátria, puta imunda, não nos confere.Envolvo a todos no meu abraço fraterno com todo o carinho que um camarada sente pelos seus.

Deus vos guarde.
antonio lourinho a 16 de Janeiro de 2010 às 11:53
Olá, Victor Pessa!
Parabens pelo seu blogue.
Pertenci ao BCaç4810/72 (2ªCCaç-Cantina Oliveira) que foi substituir o BCaç3843. Estas unidades militares estiveram sedeadas na Chipera, CCS, Estima uma companhia operacional, Chiringa uma comp. operac. e Cantina Oliveira, igualmente uma comp. operac.
Será que que tem algum feedback sobre o comandante da companhia 3356, Capitão Jeremias, que esteve em Cantina Oliveira e depois em Milange, na Zambézia? Caso saiba algo sobre o referido militar, ou conhecer alguém que saiba, muito agradecia que me informasse.
Renovados parabéns pelo blogue e fortes saudações veteranas,
Vicente Ferreira ap101810@yahoo.com
Olá companheiro, da mesma guerra.
Estou a contactar pela seguinte razão: Assentei praça nas Caldas da Raínha no primeiro turno de 1970, fui tirar a especialidade em Tavira, depois estive em Tomar e formei batalhão em Chaves.
Depois embarquei no Niassa para Moçambique, Cabo Delgado.
Parece ter havido alguma coincidência entre nós, mas a melhor é a do batalhão: BCaç 3834.
Para melhor conhecimento dele aqui fica um link: http://jad-3310-omartomadonairotoeluma.blogspot.com/
Abraço
M.Gonçalves
Ola Victor
Foi com gosto que vi o n/blogue do n/ Bat. 3843 /CCS e espero que todos ajudem com comentários e fotografias dos bons e maus momentos. Fico feliz por varias razões mas a principal sinto-me responsavel, pois fui e elo de ligaçao do Pessa que estava desaparecido nao em combate mas na terra dos chocolates (Obidos) e a partir daí tudo foi facil.
Um abraço
Abraços Palma 1ª cabo rodoviario 04369/70
Estou como sempre orgulhoso e impressionado.
Orgulhoso, pela iniciativa e por seres como sempre foste e serás, o meu modelo e "heroi".
Impressionado, contigo e com todos os teus camaradas, pela coragem demonstrada e pelo "sacrifício" de uma geração, que dificilmente será explicável ou transmitido ás futuras.
Acredito que este blog, honra e mostra-me uma parte da tua vida que desconhecia, ou que pouco ou nada se fala...
Abraço do teu filho.
Gustavo Pessa
Do nosso camarada Antunes (cozinheiro), chegou a seguinte mensagem:
Amigo Vitor Pessa parabéns pelo seu blogue.
Dá para ver nas fotos que na altura éramos uns jovens...
Daqui vai um grande abraco do sempre amigo Luis Antunes (o cozinheiro), CANADA.
Caro Amigo Victor Pessa,
Cruzámo-nos certamente na Chipera durante cerca de dois meses, mas a memória não dá para tanto....
Obrigado pelo teu trabalho porque, com ele, guardas a memória dos putos que todos éramos e que foram feitos homens cedo de mais.
Uma abraço
Manuel Ferreira
(fazia parte da C.CAÇ. 4241)
Amigo Pessa:
Não páras de nos surpreender. Estas pobres criaturas, nos anos 70 perdidas naquele "buraco" de meter medo, até já têm dignidade de aparecerem em filmes na internet. Quem nos diria a nós, como foi possível tamanho progresso. Vai mandando as novidades que a malta agradece. Tive eco dos meus amigos que tal como eu também se impressionaram com as fotos do pobre capitão Cunha. Nos almoços que fazemos de dois em dois anos, é com grande saudade que recordamos o capitão miliciano, na altura quase médico que devido à falta de oficiais "Xicos" foi obrigado como outros a tirar um curso de guerrilha na Guiné, de 6 nmeses, depois puseram-lhe os galões de capitão em cima e vai lá para Moçambique comandar uma companhia. Era assim a cegueira naqueles tempos.
Adiciona aí mais o seguinte endereço de um amigo do Porto, o ex-Furriel de transmissões José Emmanuel Pinto, que também fez parte da nossa C.CAÇ 4241
(José Abílio Mourato joseabiliomourato@gmail.com )
É com surpresa que vejo espelhado o esforço de tantos para manter viva a memória, já que mais não seja, para honrar todos quantos deram generosamente as suas vidas e se entregaram ao sacrifício das suas juvenudes ultrajadas por um regime comandado por maníacos. Saúdo quantos aqui deixaram os seus contributos para que o nosso sacrifício não caia no olvido e que um dia possamos receber a gratidão que a pátria, puta imunda, não nos confere. Envolvo a todos no meu abraço fraterno com todo o carinho que um camarada sente pelos seus.
Deus vos guarde.
antonio lourinho a 16 de Janeiro de 2010 às 11:53
Amigo Victor Pessa
Felizmente tive a sorte de não ter ido a África. Fiquei mais por Alverca. Mas aí também fiz amizades que hoje perduram. Sobre o teu blog gosto, o que fazes fazes bem, assim a base está feita e ao longo dos tempos vão-se fazendo correcções. Esta forma de comunicação é uma excelente ideia que vai trazer aproximação dos teus amigos, com quem partilhaste parte da tua juventude.
Parabéns um abraço de amizade
José Louro da Costa

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Várias Fotos

Um dia resolvemos dar uma de "civil" e vai daí toca a vestir alguma roupinha civil antes que as traças dessem com ela. Foi engraçado ver aqueles "cavaleiros de triste figura" passeando pelo aldeamento com ar de turistas. Até os próprios habitantes acharam estranho.
Dia da chegada do avião que trazia entre muitas coisas, o correio, as cartinhas da familia, da namorada. etc. Era sempre um acontecimento a sua chegada.
Por vezes recebiamos visitas que vinham de "papaias" ou seja de helicóptero.
Os 3 mosqueteiros.
Um dia perguntaram-me porque não dávamos pratos e talheres. Fiquei a pensar naquela observação e ainda hoje a recordo. De facto era um acontecimento muito especial para aquelas crianças poderem usufruir de alguma alimentação que lhes era distribuida e que depois eles levavam para repartir pelos outros elementos da familia. Durante o tempo da nossa permanencia não tive conhecimento de algum caso de fome entre a população e a prova disso é a figura seguinte.
Esta criança que alguns vão recordar, esteve quase a morrer e se não fosse a nossa intervenção não estaria certamente viva. Foi preciso muita paciencia e força de vontade para lhe dar aquilo que ela precisava. Conseguiu recuperar da sua enfermidade e ao fim de alguns dias pode-se juntar ao grupo de amigos que se juntavam diariamente frente ao portão do aquartelamento.
Neste grupo onde estão alguns camaradas da 2758 podemos apreciar um dos mais belos momentos de acção social e psicológica. Vejo o Martins, o Jesus, o "Cavilhas", o Sardinha, eu e o Tudela. Peço desculpa mas não me recordo do nome dos outros dois elementos.

Afonso Gil comentou...
Amigo Pessa, Vi o teu blog e não podia deixar de te felicitar pelo trabalho nele apresentado. Sem ele não me teria sido possível relembrar caras e locais que há muito estavam apagados na minha memória.
Aproveito para te informar de que na fotografia onde estão várias pessoas junto de uma viatura, algumas delas com crianças ao colo, a que está entre o Jesus e o Fonseca (o Cavilhas) sou eu.
Ao lado do Martins está o Silva, também da 2758.
Um Abraço.

Victor Pessa comentou...
Grande Gil há que anos não falamos, a vida é assim mesmo, de repente desbunda tudo peranto os nossos olhos que nem acreditamos. Grandes paródias... e que saudade desse tempo, apesar de tudo. Folgo em saber que estás bem. Grande abraço também. Victor Pessa.

24 de Janeiro de 2010 14:11
Nestas fotos podemos ver o Alf. Nicolau, eu e algumas moças do aldeamento, que aproveitavam o facto das abundantes chuvadas que encheram o rio para fazerem algumas lavagens de roupa. Na outra foto junto á capela podemos ver o "Cavilhas", Tudela, eu, Fur. enfermeiro da 2758 do qual não recordo o nome o Botas e outro camarada.
A Engenharia chegou para arranjar as picadas e abrir novas e era preciso garantir a segurança das operações. Essa tarefa estava entregue à CSS. Pausa para almoço.

O trabalho logistico de apoio às populações era uma das nossas preocupações. A apanha do milho, foi naquele ano a maior dos últimos tempos.
Era dia de festa e a criançada compareceu toda para assistir à missa que o Padre Gonçalves ia celebrar!
Como sempre o dia terminava com um Por-do-Sol esplendoroso!

Uma das missões mais dificeis era convencer a população que vivia no mato a vir para o aldeamento. Por isso periodicamente eram emitidos panfletos de acção psicológica com esse intuito. Estes panfletos eram lançados, umas vezes por mim outras por outros camaradas, de avião sobre as machambas que existiam pelo mato fora. Na imagem em baixo temos um exemplo de Aerograma que eram utilizados pelo exercito para que todos pudessem escrever para casa.

Por vezes faziamos deslocações a Tete, ou para tratar dos dentes ou para tratar de assuntos da CCS. Nessas deslocações a Pensão CADIMA tinha uma importância estratégica, pois ficava situada numa das principais ruas de Tete. Recordo que naquela epoca andáva-se a construir a rede de saneamento, pelo que as ruas estavam todas esburacadas.

O Tavares, eu, o "Cavilhas" e o Espírito Santo.
Nós chamávamos-lhe "cavilhas", porque ele tinha sido operado a uma perna e tinha dois parafusos que lhe saiam na anca. Pertencia à CCaç 2758.
Foi neste Jeep que eu aprendi a guiar. Recordo que estava sozinho na sala de Operações quando o toque de avião a chegar se fez ouvir. De imediato saltei para dentro do Jeep e liguei a chave ( a mudança já estava metida) e aquela coisa começou a andar. A distância não era comprida e depressa cheguei ao destino. O problema foi parar o "animal". Como não sabia o que fazer travei simplesmente e aos solavancos aquela coisa lá parou no meio de grande rizada de todos os que assistiam. Depois mais tarde com a ajuda do Tavares lá aprendi a técnica para conduzir aquela máquina na perfeição.

Aqui com o Branca do Rosário.
O 1º Sarg Vaz junto da oficina.
Fim do dia, hora para descansar um bocado antes do jantar. O Simões, eu, Tavares, o substituto do Administrador de Chipera e o Marques.
Regresso de férias. Aqui o Palma tinha ido à Metrópole de férias e no seu regresso teve a oportunidade de sobrevoar Cabora Bassa, no preciso momento em que outra DO ou "Dornier" fazia o mesmo. Este feliz momento ficou registado nesta foto.
Foto enviada pelo Palma.
Nesta foto tirada em Chipera estão o Carvalho (barcelos), Castro (spm), Tony, Zé manel e o Palma claro.
Pode-se ver que não estavam sozinhos havia uma figura não identificada, pois nota-se o perfil de uma perna de cariz "feminino", assim meia escondida. Visto estarem de PM estariam concerteza a identificar a dona da referida "perna", ou não?